sexta-feira, 12 de agosto de 2016

LITERATURA HISTÓRICA DO ANTIGO TESTAMENTO: Introdução

Estamos entrando agora naquele grupo de doze livros chamados pelos judeus de profetas anteriores e que, seguindo a classificação grega, denominamos de históricos. Iniciando com Josué e indo até Ester, veremos que estes doze livros retratam a história da nação de Israel. Eles cobrem a vida da nação desde possessão da terra prometida até as duas deportações e perda da terra por causa da incredulidade e desobediência deles.
Por que os judeus classificam este grupo de livros de “profetas anteriores”, enquanto nós, seguindo a Septuaginta os classificamos de “históricos”?  Paulo Hoff procura responder esta questão em seu livro:
“Há duas razões possíveis.  Em primeiro lugar, a tradição hebraica atribui a ‘profetas’ a composição destes livros.  Em segundo lugar, o objetivo principal dos escritores não é tanto ensinar a história de Israel tal como ela foi, e sim ‘a forma pela qual a mensagem de Deus entrou na vida da nação’,  ou seja, os historiadores cristãos escrevem sempre guiados por um fim doutrinário, e inspirados na lei e nos profetas.  Apresentam a história de Israel desde o ponto de vista profético. ... Assim como os profetas, os escritores dos livros históricos se interessavam mais em interpretar a história que em registrá-la.  Sua motivação era dar ensinamento e edificação aos seus leitores.  Os historiadores sagrados não tentavam narrar todos os acontecimentos de Israel e das nações que estavam ao seu redor.  Passaram por alto certos períodos ou os trataram de forma breve, por estes não terem relacionamento direto com seu tema.  Escolheram, selecionaram e orientaram todos os acontecimentos históricos com um fim religioso, dando-lhes uma significação profunda e sublime: a atuação de Deus na história. ” (1996, p.13). 
É importante também destacarmos aqui as duas formas de se escrever história, conforme observou Philip Hyatt:
“... os escritos históricos são de duas espécies: objetivos e subjetivos.  Os escritos objetivos relatam-nos os acontecimentos como se desenvolveram, evitando, tanto quanto possível, o preconceito do investigador.  A história subjetiva procura descobrir e interpretar os fatos e o seu valor em relação como o homem.  Consiste de ‘eventos ligados entre si por uma linha de interpretação’.  A história objetiva procura ser impessoal, enquanto a subjetiva é pessoal no seu escopo.  O alvo principal da história subjetiva é levantar o interesse, de modo a inspirar ação; o principal alvo da história objetiva é suprir informação.  O historiador subjetivo tem os olhos postos nos leitores; e o objetivo, nos fatos que procurar relatar.” (apud,  FRANCISCO, 1969, p. 68).  A história veterotestamentária é subjetiva.
Cobrindo aproximadamente 800 anos da história de Israel, os doze livros que compõe esta parte da bíblia registram a conquista e possessão de Canaã, as lideranças dos juízes, o estabelecimento de reis, a divisão de Israel nos Reinos do Norte e Sul, a queda do Reino do Norte para Assíria, a queda e o exílio do Reino do Sul para a Babilônia, e o retorno dos exilados para Jerusalém debaixo da liderança de dois homens Neemias e Esdras.
As palavras finais de Moisés em Deuteronômio 28-30 constituem uma introdução excelente aos livros históricos.  Ou, digamos, os livros demonstram exatamente o que Moisés disse naqueles capítulos sobre o que seria feito pelo Senhor no caso de serem ou não obediente.  As bênçãos prometidas como resultado da obediência se evidenciam na conquista vitoriosa de Josué e nos extraordinários reinados de Davi e Salomão.  Por sua vez, as maldições surgem na apostasia dos juízes, na posterior idolatria e no cativeiro dos dois reinos.  As promessas de restauração final, relacionada com os “últimos dias” (Deuteronômio 4:30), tiveram cumprimento parcial na volta de Zorobabel, Esdras e Neemias.
Conforme o quadro abaixo, podemos ter uma visão panorâmica destes doze livros históricos e seus assuntos e temas centrais:

LIVROS HISTÓRICOS
Josué
Juizes e Rute
a possessão da terra pela nação e a opressão da nação
A Teocracia: Estes livros cobrem o período quando Israel era governado por Deus (1405-1043 A.C.).

1 Samuel
2 Samuel
1 Reis 1-10
1 Reis 11-22
II Reis 1-17
II Reis 18-25
1 Crônicas
2 Crônicas
a estabilização da nação
a expansão da nação
a glorificação da nação
a divisão da nação
a deterioração do Reino do Norte
a deportação do Reino Meridional
a preparação do Templo
a destruição do Templo
A Monarquia: Estes livros focalizam a história da monarquia de Israel e seu estabelecimento bem como a sua destruição em 586 A.C.

Esdras
Neemias
Ester
A restauração do Templo
A reconstrução da cidade
a preservação do povo israelita (qdo. no exílio)

A Restauração: Estes livros descrevem o retorno dos remanescentes à terra depois de 70 anos de cativeiro (605-536 A.C.).


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
FRANCISCO, Clyde T.  Introdução ao Velho Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1969. 

HOFF, Paul.  Os livros históricos. São Paulo: Vida, 1996.  

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