quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Profetas: Os Doze Notáveis – Sua Relevância no Novo Testamento


            Há poucas informações pessoais sobre este grupo de profetas, em alguns casos, tudo o que temos é o livro que trás seu nome. Alguns são bastante populares (por exemplo, Jonas), outros são bastante desconhecidos (por exemplo, Obadias). Alguns exerceram um ministério mais longo e outros – inferindo do que sabemos de seus escritos - pode ter sido bastante curto (por exemplo, o livro de Ageu abrange um período de alguns meses).
            Apesar de serem relegados à periferia das pregações evangélicas e desconhecidos pelos evangélicos de forma geral, estes profetas foram amplamente referido na literatura do Segundo Testamento. Isso faz sentido quando entendemos que a inspiração é o que faz os escritos contidos na bíblia significativos - pouco importa se o registro contém apenas alguns parágrafos ou muitas páginas, pois tudo o que Deus falou através de cada um deles é inspirado e digno de nossa atenção, como tão bem esclarece Pedro, "a profecia nunca veio pela vontade do homem, mas homens separados por Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" (1Pe 1.21).
A título de ilustração vejamos algumas das passagens importantes destes profetas que foram utilizadas pelos escritores neotestamentários:
a) Lucas 11. 29-30 - Jesus se referiu ao "Sinal do Profeta Jonas:" E enquanto as multidões se juntaram grosseiramente, ele começou a dizer: "Esta é uma geração do mal. Procura um sinal, e nenhum sinal será dado a ele, exceto o sinal de Jonas, o profeta. Pois, como Jonas tornou-se um sinal para os Ninivitas, então também O Filho do Homem será para esta geração". Quem melhor poderia referendar e valorizar a mensagem profética de Jonas do que o próprio Senhor Jesus. Ele compara o Seu ministério com o de Jonas, que advertiu Nínive. Mas diferentemente dos ninivitas os moradores de Jerusalém e a grande maioria dos judeus não crerão e nem se arrependeram.
b) Habacuque 2.4 - "O justo viverá pela fé". Esta pequena e singela frase pronunciada na pregação do profeta do século XVIII  a.C. e  que foi reproduzida na epístola escrita pelo apóstolo Paulo e dirigida às comunidades cristãs na cidade de Roma, no primeiro século, tornar-se-á o estopim da maior Reforma experimentada pela Igreja Cristã no século XVI.
c) Miqueias 5.2 - Quando os sábios do Oriente vieram a Herodes perguntando sobre o paradeiro do nascimento do rei dos judeus, foi o livro do profeta Miqueias, que forneceu o responda. O evangelista Mateus (2.4-6) registra o que aconteceu: E quando [Herodes] reuniu todos os principais sacerdotes e escribas, perguntou a eles onde o Cristo iria nascer e assim eles disseram a ele: “Em Belém da Judéia, pois assim está escrito pela profeta: ‘E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel’”. 
d) Oséias 11.1 – Alertado em sonho José conduz Maria e o menino Jesus para o Egito, fugindo assim da ira mortal de Herodes. Após a morte do rei genocida José é comunicado que pode retornar novamente para sua terra, e o evangelista Mateus se utiliza da expressão do profeta Oséias (11.1) que faz referência ao êxodo dos israelitas do Egito, para ilustrar que Jesus é o novo êxodo, não apenas para os israelitas, mas para todos os que nele crerem: “para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: ‘Do Egito chamei o meu filho’”.
e) Zacarias 11.12 e 12.10 - O valor de 30 moedas (peças) de prata, referente ao preço de um escravo, pelas quais Judas trairia o seu Mestre, foi proferido pelo profeta: “Se acharem melhor assim, paguem-me; se não, não me paguem. Então eles me pagaram trinta moedas de prata”. É desse mesmo profeta que vem a descrição de como Jesus faria sua derradeira entrada na cidade de Jerusalém ovacionado pela multidão: “Alegre-se muito, cidade de Sião! Exulte, Jerusalém! Eis que o seu rei vem a você, justo e vitorioso, humilde e montado num jumento, um jumentinho, cria de jumenta” (Zc 9.9, cf. Mt 21.5). Coube a esse profeta visualizar o terrível equívoco dos judeus em relação ao seu Messias: “Olharão para mim, aquele a quem traspassaram, e chorarão por ele como quem chora a perda de um filho único, e lamentarão amargamente por ele como quem lamenta a perda do filho mais velho” (Zc 12.10, cf. João 19.37).
f) Malaquias 3.1 e 4.5-6 – È dos registros desse último dos profetas que vem a referência sobre o ministério preparatório de João Batista: “Vejam, eu enviarei o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim. E então, de repente, o Senhor que vocês buscam virá para o seu templo; o mensageiro da aliança, aquele que vocês desejam, virá", (Ml. 3. 1). São desse profeta as palavras que apontam para figura histórica do profeta Elias como indicador da vinda do Dia do Senhor e do seu Messias, com o qual Jesus relaciona diretamente ao ministério veemente de João Batista (Ml 4.5-6; cf. Mt 11.14; 17.10-13).
 g) Joel 2 e 3 - Alguns dos eventos mais temíveis e sombrios associados ao retorno de Cristo, no final dos tempos, é registrado por outro profeta desta seleta coleção - Joel - sobre o "Dia do Senhor" (Joel 2 e 3): “Multidões, multidões no vale da Decisão! Pois o dia do Senhor está próximo, no vale da Decisão. O sol e a lua escurecerão, e as estrelas já não brilharão. O Senhor rugirá de Sião e de Jerusalém levantará a sua voz; a terra e o céu tremerão. Mas o Senhor será um refúgio para o seu povo, uma fortaleza para Israel” (Jl 3.14-16).
Estas são apenas uma pequena amostra das riquezas a serem encontradas nesta negligenciada coleção dos Doze Notáveis.

Razões Para Estudarmos Estes Profetas
ü  É impossível compreendermos a genuína mensagem da Bíblia e entender muito do que Jesus disse e fez sem uma compreensão razoável do Primeiro Testamento. A negligência do Primeiro Testamento tem produzido uma distorção na interpretação de Cristo e sua mensagem. Uma vez que os Doze são parte integrante da primeira parte da revelação bíblica, eles tornam-se indispensáveis para uma interpretação correta da mensagem bíblica.
ü  Uma vez que toda a Bíblia é inspirada por Deus e útil para uma vida cristã autentica, o estudo dos Doze em hipótese alguma pode ser negligenciado.
ü  Para uma compreensão de uma fé completamente integrada à realidade humana é fundamental a compreensão da mensagem contida nestes escritos proféticos dos Doze. Suas mensagens são direcionadas a todas as esferas: sociais, religiosas, econômicas, políticas e judiciais.
ü  É no conjunto destes doze profetas que haveremos de encontrar uma visão mais completa do desenvolvimento histórico de Israel/Judá desde os tempos de Salomão, através do Reino dividido, a queda subsequente do Reino do Norte para a Assíria e o Reino do Sul para a Babilônia e, finalmente, a restauração do remanescente que retorna da Babilônia para reconstruir Jerusalém antes para o tempo do NT.
ü  Esses profetas e suas mensagens nos pintam um quadro muito vivido do caráter de Deus: sua Justiça e sua Graça se equilibram de forma perfeita em sua relação com Seu povo. Serve de alerta a todas as nações de que assim como Deus tratou com Israel/Judá, assim Ele haverá de trata-los também.
Na organização canônica proposta pela versão grega da Septuaginta e adotada por nossas versões em português (inglês) coube aos Doze concluírem a literatura não apenas profética, mas de toda literatura bíblica contida no Primeiro Testamento. Com a mensagem de Malaquias cessa-se a voz de Deus e somente quatrocentos anos depois, com a pregação de João Batista ouvir-se-á novamente a voz de Deus ressoando aos ouvidos de seu povo.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.
FALCÃO, Silas Alves. Panorama do Velho Testamento – os livros proféticos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1965.
FEINBERG, Charles L. Os profetas menores. Tradução: Luiz A. Caruso. Florida: Editora Vida, 1998.
FRANCISCO, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP), 1969.
LASOR, W. Sanford, DAVI A. Hubbard e FREDERIC W. Bush. Panorama del Antiguo Testamento - Mensaje, forma y transfondo del Antiguo Testamento. Buenos Aires: Ed. Nueva Creacion, 1995.
ROBINSON, Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.

SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

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