sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Os Paradoxos da Felicidade nas Bem Aventuranças (Mateus 5.1-12)

Bem Aventurados....
            O Evangelho foi mal compreendido ainda nos dias em que Jesus caminhava pelas estradas empoeiradas da Palestina judaica e o proclamava exaustivamente.
            A mensagem evangélica de Jesus impactou os ouvidos desabituados de um povo que há quatro séculos não ouviam palavras proferidas com tão grande autoridade e poder. Multidões começaram a serem atraídas pelas palavras proferidas por Jesus de maneira que em poucos meses um número expressivo de pessoas passou a segui-lo em seu ministério itinerante pelas cidades e vilarejos espalhados por todo o território judaico.
            É importante realçar o fato de Jesus não fazer da grande capital, Jerusalém, a sua base de operações. De acordo com os textos dos evangelistas Jesus passa pela cidade algumas vezes, porém se qualquer alarde. Ele vai estabelecer sua base na cidade de Cafarnaum, situada na região da Galileia, sempre depreciada e menosprezada pelos moradores abastados e soberbos da enriquecida Judéia, incluindo a casta sacerdotal judaica, com seu magnifico Templo, suntuosamente ornamentado pelo famigerado Herodes, o Grande, que destituído de qualquer senso moral ordena a morte de todos os meninos de dois anos para baixo no esforço inútil de matar o menino Jesus e cuja morte em decorrência de sua arrogância foi a de ser comido por bichos que brotaram de suas entranhas.
            Mas apesar de sua popularidade crescente poucos foram aqueles que verdadeiramente a compreenderam sua mensagem e adotaram-na como um novo estilo de vida. Na verdade, até mesmo aquele pequeno grupo seleto, os apóstolos, escolhidos pessoalmente por Jesus, apreenderam o valor e significado do Evangelho ensinado pelo Mestre. Por quase três anos o acompanharam em suas caminhadas, e em diversas ocasiões Jesus os ensinou particularmente, todavia, reincidentemente Ele teve que os corrigir com severidade, pois suas mentes e corações pouco havia absorvido dos princípios evangélicos exaustivamente ensinados por Ele. Essa triste realidade fica evidenciada quando empreende pela última vez uma subida à Jerusalém, e pelo caminho eles começam a discutir com veemência qual dentre eles seria o maior na hierarquia do novo Reino que estava por ser estabelecido por Jesus. Mal sabiam eles que na hora derradeira, um deles o trairia, outro o negaria três vezes, e com exceção de João, o mais jovem entre eles, o abandonariam à mercê de seus algozes na cruz.
            Passados mais de dois mil anos, esse mesmo Evangelho de Jesus, continua sendo mal compreendido pela maioria de seus ouvintes e são raros os que o manifestam na pratica diária de suas vidas. Como naqueles primeiros dias, ainda hoje as multidões são atraídas pela beleza da mensagem evangélica, mas poucos de fato estão dispostos a pagarem o preço da renúncia e da cruz.
            Como nos dias de Jesus as multidões têm suas próprias motivações hedonistas e materialistas às quais desejam satisfazê-las por meio do Evangelho, mas continuam rejeitando quaisquer propostas que se opõe às suas necessidades de autossatisfação.
            Nesses dias em que os evangélicos ampliaram em muito suas zonas de conforto, as exigências explicitamente contidas no bojo do Evangelho de Jesus, são esquecidas e lançadas imediatamente na lixeira de uma vida cristã insonsa. O evangelicalismo brasileiro desenvolveu um pseudo cristianismo em que são preservados a todo custo seu bem-estar e conforto. E não somente os fomentadores e operadores da apologética da prosperidade, mas a todos os segmentos do universo evangélico, que em maior ou menor grau, desenvolveram suas notas de rodapé do Evangelho, e se aferrenham a elas, inibindo neles próprios quaisquer disposição para um retorno aos paradoxos do Evangelho originalmente proclamado, ensinado e vivenciado por Jesus.
Ao lermos as páginas evangélicas da bíblia cristã, somos informados que a mensagem de Jesus haveria de produzir uma dupla reação: nos que cressem uma profusa alegria e nos que a rejeitassem um intenso ódio. Mas, esse pseudo cristianismo insonso proclamado a plenos pulmões e por todos os meios de comunicação, por ampla maioria dos grupos evangélicos que proliferam nos dias atuais, não produz reação alguma. Quando muito um aumento nos referidos róis de membros e em suas receitas financeiras, mas sem qualquer manifestação de amor intenso ou mudanças radicais nos estilos de vida de seus membros. Quando muito, tais ouvintes estão dispostos a inserirem em suas agendas alguns novos compromissos religiosos, mas nada que os obriguem a jogarem suas velhas agendas fora e iniciarem uma agenda totalmente nova. Esse pseudo cristianismo não exige renúncia e cruz, apenas um segmento na medida do possível da agenda pessoal e social de cada membro.
            Por esta razão creio ser oportuno e necessário voltarmos aos textos evangélicos e torna-los espelhos para podermos fazer uma autorreflexão daquilo que realmente somos e daquilo que Jesus propõe que sejamos.
            A escolha proposital de iniciarmos pelo espelho das chamadas “Bem-Aventuranças”, a partir do texto produzido pelo evangelista Mateus, não é sem razão. Cada uma dessas sentenças paradoxais pronunciadas por Jesus, obrigatoriamente, deve nos arremessar a uma profunda crise de fé e prática; cada uma delas deve nos constranger e nos fazer corar de vergonha.
            Antes de usufruirmos das profusas alegrias prometida em cada uma delas, é necessário e indispensável que experimentemos um genuíno arrependimento e uma profunda contrição pelos nossos pecados, manifestados explicitamente em nossas permanentes contradições, entre o que somos e o que deveríamos ser como discípulos de Jesus Cristo. São raros entre nós aqueles que experimentam essa profusão de alegria, porque são raros entre nós aqueles que experimentam uma contrição genuína e um arrependimento verdadeiro.
            Precisamos urgentemente, mais do que qualquer outra coisa, mergulharmos por inteiro nos paradoxos do Evangelho, expresso em cada uma dessas Bem-Aventuranças, para que morrendo em nós mesmos, sejamos vivificados para uma vida cristã autentica. Precisamos ser desconstruídos completamente por cada uma dessas Bem-Aventuranças, para que sejamos reconstruídos e venhamos experimentar a verdadeira e permanente felicidade!

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Referência Bibliográfica
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JEREMIAS, Joachim. Jerusalém no Tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período neotestamentário. 4 ed. São Paulo: Paulus, 1983.

STOTT, John R. A mensagem do Sermão do Monte. Tradução: Yolanda M. Krievin. São Paulo: ABU Editora, 1989, 2ª ed. Série: A Bíblia Fala Hoje. [Título anterior: Contracultura Cristã]. 

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