quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Viajando no Evangelho Segundo Mateus (2.1-12)

A Repercussão Mundial do Nascimento de Jesus
                   Continuamos nossa viagem evangélica seguindo o roteiro oferecido por Mateus. Iniciamos a viagem conhecendo os antecedentes genealógicos de Jesus Cristo onde se destacam os dois personagens proeminentes da História israelita/judaica de Davi e Abraão, nos indicando claramente que Jesus é legalmente descendente da linhagem messiânica.
Na sequencia ele nos revelou algumas informações sobre o nascimento de Jesus em que se destaca o cumprimento de profecias messiânicas, o nascimento virginal e a figura significativa de José, que assim como a jovem Maria teve uma visão angelical (em sonho) esclarecendo e orientando como ele deveria reagir e como deveria proceder aos acontecimentos em curso, o que ele fez com integridade.
Seguindo o roteiro de viagem elaborado por Mateus vamos nos deparar com alguns personagens muito interessantes e misteriosos que vieram do Oriente para oferecerem suas homenagens ao recém-nascido Jesus. Mas também conheceremos um dos personagens mais hediondo das páginas evangélicas – Herodes, o Grande.
O nascimento de Jesus Cristo produz reações totalmente antagônicas: se os viajantes do Oriente percorreram milhares de quilômetros para oferecerem suas ofertas de gratidão pelo nascimento do tão esperado e desejado rei messiânico; por outro lado Herodes fica não apenas perturbado, mas transtornado com a notícia, porque para ele esse bebê representa tão somente um rival que têm pretensões ao seu trono. Enquanto os gentios buscam a Jesus e se prostram em reconhecimento de sua realeza, os moradores de Jerusalém (capital religiosa da nação) estão completamente alienados de tudo quanto Deus está a fazer.
Vamos seguir nossa viagem!

Evangelho Segundo Mateus (NVI)
Capítulo 2.1-12
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Síntese da Perícope: A Repercussão Mundial do Nascimento de Jesus
Jesus nasceu em Belém, ao sul de Jerusalém, nos dias do rei Herodes, o Grande, apesar de ser um idumeu (edomita) foi nomeado pelo Senado Romano como rei da Judéia (37 a 4 a.C.) e apesar de seus grandes feitos ficou mais conhecido por sua crueldade e paranoia. A ideia de um futuro rei nascer em seu território o deixou transtornado, como veremos nesta perícope.
Vieram "magos" [sábios] do Oriente que guiados por uma estrela chegaram a Jerusalém, o lugar mais obvio para se encontrar um futuro “rei”.
Quando Herodes ouviu falar de outro rei, ele ficou perturbado e começou procurar uma maneira de eliminar esta "ameaça" ao seu poder.
Acionados os sacerdotes e escribas de plantão no palácio real trouxeram informações bíblicas (AT) aos magos, citando a profecia de Miquéias 5:2 sobre o nascimento do Cristo na pequena e singela vila de Belém.
Herodes astutamente se mostra interessado em também homenagear o rei-bebê. Os magos foram até Belém e entraram na casa (não na manjedoura) onde o menino (não mais um bebê) estava. Entre a manjedoura e a casa há um espaço aproximado de dois anos. Mas alertados quanto as intenções reais de Herodes quanto ao menino, os magos não voltaram para Jerusalém e não repassaram as informações a Herodes.
1. Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém
2. e perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo".
3. Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém.
4. Tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo.
5. E eles responderam: "Em Belém da Judéia; pois assim escreveu o profeta:
6. ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor entre as principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo’ ".
7. Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido.
8. Enviou-os a Belém e disse: "Vão informar-se com exatidão sobre o menino. Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá adorá-lo".
9. Depois de ouvirem o rei, eles seguiram o seu caminho, e a estrela que tinham visto no Oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o lugar onde estava o menino.
10. Quando tornaram a ver a estrela, encheram-se de júbilo.
11. Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra.
12. E, tendo sido advertidos em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram a sua terra por outro caminho.
Se no capítulo 1 os acontecimentos ficam restritos ao contexto pessoal e familiar, o capítulo 2 extrapola a esfera familiar e as fronteiras geográficas, pois o nascimento de Jesus é “boas notícias” para todos os povos.
Ele nasce na pequena vila de Belém da Judéia, pois havia outra Belém na região de Zebulom (Js 19.15), a oeste de Nazaré e, portanto na região da Galileia. Mas esta indicação geográfica serve também para relaciona-la com a profecia de Miqueias citada em seguida. A palavra "Belém" significa "casa de pão" – pois suas terras eram muito férteis. Também se chamava Efrata, uma palavra suposta para significar fertilidade (Gn 35.19; Rt 4.11; Sl 132.6). Foi chamada a cidade de Davi (Lc 2.4), porque era a cidade de sua natividade (1Sm 16.1, 1Sm 16.18), mais uma inferência de que Jesus vinha da descendência real messiânica, pois ele precisava ser da tribo de Judá. A vila esta localizada cerca de oito a dez quilômetros da capital Jerusalém.
A expressão cronológica “nos dias do rei Herodes” insere Jesus no calendário humano, pois o nascimento de Jesus não é um evento mitológico ou místico, mas está completamente inserido no tempo-histórico. Como todo ser humano Jesus fazia aniversário anualmente, conforme o calendário.
A figura de Herodes é uma das mais contraditórias em toda narrativa evangélica. Herodes era de uma família de idumeus, convertidos ao judaísmo forçosamente por João Hircano (período dos Macabeus) e assim fica evidente sua falta de apego ao judaísmo, pois era um estrangeiro estabelecido por um Império estrangeiro (Roma) e reinou por trinta e três anos.
Mateus denomina os visitantes estrangeiros como sendo “magos” literalmente, "Magi" ou "Magians", provavelmente da classe instruída que cultivava astrologia (astronomia) e ciências afins. Aparecem em um período primitivo como uma classe de sacerdotes da Media e Persa e conhecido por serem zelosos observadores da justiça e da virtude. O historiador Cícero os identifica como sendo “uma classe de sábio e doutores da Pérsia” e Daniel foi contado entre os "homens sábios" da Babilônia (Dn 2.48). enquanto exercia suas funções no Império Babilônico e Medo/Persa. Mas como tudo se degenera após a queda da Babilônia os “magi” passaram a serem necromantes e astrólogos e provavelmente essa é a visão que Herodes tem deles ao recebê-los. Mas a postura e comportamento destes homens sábios indicam que eram homens dedicados ao estudo das religiões sendo possivelmente remanescentes judeus (ou influenciados por estes) que haviam sido deportados para a Babilônia e posteriormente pelas cidades dos medos “e para os países circunvizinhos” (cf.2Rs17.6; 1Cr 5.26; Et 1.1; At 2.9-11) e que tinham visto a semelhança entre a "estrela" e a estrela messiânica de Jacó, que Balaão havia profetizado (Nm 24.17). Por outro lado, os judeus não mantiveram sua esperança messiânica escondida de outros povos e também é fato comprovado de que entre outras populações havia uma esperança da vinda de melhores coisas em relação a um grande Libertador que viria. O evangelista não os identifica pelo nome e nem quantos eram. Somente em séculos posteriores (V) que a Igreja Cristã começou a classifica-los de reis à luz do Salmo 72 “os reis de Társis e das regiões litorâneas lhe tragam tributo; (ao Messias)”. As pinturas nas catacumbas cristãs (séc. II) os identificam como nobres persas. São identificados como sendo três por causa do número de presentes oferecidos, mas o numero deles são variáveis nas pinturas das catacumbas e antigos monumentos cristãos: dois (sec. III); quatro (sec. IV) e às vezes o número de seis e até doze em representações nas comunidades sírias e armênias. Os nomes são dados apenas nos séculos VII e VIII, portanto desprovidos de autenticidade. A ênfase evangélica não está nos magos, mas no que vieram fazer: “adorá-lo”, se “prostrar” reconhecendo sua autoridade.
Os visitantes orientais vão procurar o bebê na capital e no palácio, visto identifica-lo como “rei”. A expressão “rei dos judeus” (2.2) na boca destes sábios abre o parêntese que se fechara no final desta narrativa evangélica na tabuleta da cruz (27.37) “rei dos judeus”. Entre a primeira e a segunda referência temos a história desse Rei dos Reis. Ao chegar aos ouvidos de Herodes ele fica completamente transtornado, pois identifica a criança como ameaça ao seu trono. Imediatamente ele convoca os líderes religiosos judaicos e exige que descubram onde essa criança haveria de nascer.
 A informação é extraída das profecias de Miqueias (5.2; e a segunda linha cf. IISm 5.2) que foi proclamada aproximadamente 700 anos antes do nascimento de Jesus. De todos os lugares em Israel, a pequena aldeia de Belém Efrata foi escolhida como o lugar onde Jesus nasceria. Ele não será um rei déspota, mas um rei pastor, que cuidará e suprira as necessidades de seu povo.
Astutamente Herodes ao passar a informação aos visitantes simulando um interesse de também homenagear a criança-rei.
Ao saírem do palácio os visitantes reavistaram a “estrela” que os havia conduzido antes e a seguiram. Os céticos de plantão sempre menosprezam o sobrenatural das narrativas bíblicas e evangélicas, mas Deus se comunica por todos os meios para revelar sua vontade – natural (estrela) e especial (profecia).
Finalmente a jornada deles termina – a estrela para sobre a casa onde o menino tão procurado mora. A visita dos sábios não aconteceu ao mesmo tempo da visita dos pastores (veja Lucas 2). Os magos chegam quase dois anos mais tarde. O casal José e Maria com Jesus já estavam numa casa. Ao entrarem se prostram e oferecem seus presentes ao menino-rei. O termo “adorar” utilizado não indica que eles tivessem consciência de que esse menino fosse divino. As ofertas ouro, incenso e mirra nas interpretações alegóricas são sempre relacionados especificamente em referência a Deus, todavia cada uma delas aparece igualmente nas Escrituras com outras finalidades. O que importa aqui é o ato dos visitantes orientais e sua postura diante do menino reconhecendo sua realeza.
Orientados em sonho (como José) por Deus os sábios retornam para sua terra por um caminho que evita Herodes. Seus corações estão repletos de alegria e jubilo, pois sua jornada foi completada.

Conclusão Geral da Perícope 2.1-12
v  Como ocorreu na genealogia aqui novamente Mateus quer deixar bem claro que ainda que a mensagem de salvação evangélica tenha suas origens entre os judeus, ela nunca foi restrita a eles, pois desde sempre a salvação através de Jesus Cristo era para todos os povos (aliança abraamica) e Mateus conclui sua narrativa com a Grande Comissão deixada por Jesus aos seus discípulos. E se Jerusalém, representados por suas lideranças religiosas, foi ignorante e hostil, houve gentios vindos do distante Oriente atraídos por sua vinda e que o reconheceram como o Rei dos Judeus. Que terrível condenação para os líderes religiosos de Jerusalém! Os pastores (Lc 2) contemplaram seu nascimento após poucas horas; os visitantes do Oriente o contemplaram em um tempo posterior, mas os líderes religiosos de Jerusalém estavam completamente cegos em relação a tudo que Deus estava fazendo; enquanto Deus inaugura um Novo Tempo (graça) o judaísmo com todas suas subdivisões permanecem arraigados em seus próprios interesses e projetos de poder.  Deus falou com estes estrangeiros, primeiro por uma estrela, em seguida, um sonho, mas aos arrogantes de Jerusalém apenas o silencio. João vai resumir bem a situação dos judeus em relação a Jesus: “Veio para os seus, mas os seus não o receberam”. Eles estavam no estado descrito por Malaquias, alienados de Deus. No Brasil vivemos dias semelhantes, pois quanto mais se lotam os templos, mais alienados as pessoas estão de Deus. A familiaridade com as questões religiosas produz em alguns casos uma funesta tendência a produzir menosprezo pelas coisas espirituais. A famigerada “teologia da prosperidade” tem afastado milhares de cristãos da genuína espiritualidade evangélica e fixando os olhos e corações naquilo que é temporal e passageiro em detrimento daquilo que é eterno. Assim como os religiosos de Jerusalém não puderam “ver” Jesus naqueles primeiros dias, assim também os lideres cristãos brasileiros estão cegados pela cobiça e encantos deste mundo e não podem “ver” Jesus hoje. Assim como o Templo representava toda a dureza dos corações daqueles religiosos judaicos, os atuais “Templos” erigidos ao custo da exploração dos neófitos e ignorantes, apenas manifestam a arrogância e prepotência dos líderes cristãos evangélicos no Brasil atual. Parafraseando as palavras de Jesus: “Naqueles dias muitos dirão: em teu nome construímos grandiosos e ricos Templos e Catedrais; mas Jesus lhes dirá: Não vos conheço!”.
v   



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Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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Evangelho Segundo Mateus: Autoria e Data
Quem foi Mateus
NT – Introdução Geral

Referência Bibliográfica
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado. São Paulo: ed. Milenium, 1985. [v. 1].
CARSON, D. A., MOO, Douglas J. e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997.
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995.
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HENDRIKSEN, William. Mateus, v.1 São Paulo: Cultura Cristã, 2001. [Comentário do Novo Testamento].
JEREMIAS, Joachim. Jerusalém no Tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período neotestamentário. 4 ed. São Paulo: Paulus, 1983.
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RIENECKER, Fritz. Evangelho de Mateus – comentário esperança. Tradução Werner Fuchs. Curitiba-PR: Editora Evangélica Esperança, 1998. 

sábado, 19 de agosto de 2017

O Olhar de Jesus (Evangelho Marcos)


Uma das características da narrativa desenvolvida pelo evangelista Marcos é a capacidade que ele tem de apreender detalhes que seus colegas sinóticos,[1] Mateus e Lucas, na maioria das vezes são mais econômicos.
Incrustado entre seus dois companheiros mais volumosos[2] Marcos nos cativa justamente pela plasticidade de seu texto[3] repleto de nuanças que torna prazerosa e fascinante a leitura de seu relato evangélico. Ele faz o leitor sentir-se parte do que esta acontecendo - uma espécie de "você estava lá." Podemos dizer até que Marcos desenvolve uma Leitura em Terceira Dimensão - onde o leitor sente-se VENDO e PARTICIPANDO dos acontecimentos como se estivesse presente.
Uma destas peculiaridades é a forma com que Marcos descreve para nós o olhar de Jesus em algumas ocasiões (cf. 3.5, 34; 10.23; 11.11). Vejamos, a título de exemplo, uma destas passagens:
Mc 3.5 - "Olhando-os ao redor, indignado e condoído com a dureza do seu coração, disse ao homem: estende a mão. Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada."
A forma com que Marcos registra é tão vívida que nos possibilita como que vermos o que e como Jesus esta vendo aquela cena. Uma tradução mais literal seria: "e tendo olhado ao redor para eles" e que será semelhante à forma com que Jesus vai olhar também para os seus próprios discípulos.
Este olhar de indignação não é de condenação, mas de um anelo para que aquelas pessoas pudessem entender quais realmente são as coisas mais importantes e aquelas que são secundárias.[4] Jesus em alguns minutos vai restaurar a mão ressequida de um homem, que, portanto, de uma pessoa inútil para o trabalho e para o sustento de sua vida e da família, tornar-se-á uma pessoa útil para viver plenamente sua vida. Mas a reação de parte daqueles que estavam olhando esta mesma cena será de completa reprovação e violência, pois ao saírem começam a planejar a morte de Jesus (3.6).
Antes de curar aquele homem e libertá-lo de sua incapacidade de viver plenamente, Jesus olha para aquelas pessoas que entrincheiradas em sua religiosidade haviam perdido completamente a sensibilidade para com o próximo.
Ao olhar ao redor Jesus é tomado por uma profunda indignação pela insensibilidade deles. Mas diferentemente da nossa ‘indignação' que normalmente é transformada em ações duras e implacáveis, a de Jesus é totalmente revestida por uma tristeza misericordiosa e amorosa,[5] pois Jesus sabia que a dureza do coração dele[6] era decorrente de uma espiritualidade distorcida, permeada pela insensibilidade e obstinação.
Os tempos verbais utilizados por Marcos nos dão a idéia de que o olhar indignado de Jesus foi momentâneo, desvaneceu-se rapidamente, enquanto que seu olhar triste(misericordioso) foi continuo, ou seja, permaneceu. Em sua experiência pessoal com Deus o salmista declara: "Pois a sua ira só dura um instante, mas o seu favor dura a vida toda;" (Sl 30.5). Esta continua sendo a experiência de todo crente.
Evangelho de Jesus é muito mais do que um amontoado de preceitos e normas - é vida. O nosso olhar de indignidade para com aqueles que não compreendem como compreendemos e que não defendem os mesmos valores que nós defendemos jamais podem nos cegar a ponto de incapacitar de olharmos continuamente pelo prisma da misericórdia e do amor - que é a forma permanente com que Jesus olha para nós.
Antes de nos entregarmos à nossa "justa indignação" é preciso nos perguntarestamos indignados, olhando com os olhos de Jesus, ou manifestando nosso preconceito religioso ou uma atitude profundamente egoísta?

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Guedes, Ivan Pereira
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Referências Bibliográficas
ANDERSON, Hugh. The Gospel of Mark. London: Marshall, Morgan & Scott, 1976.
BETTENCOURT, Estevão. Para Entender os Evangelhos.  Rio de Janeiro: Agir, 1960.
CARSON D. A., DOUGLAS, J. Moo & MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo:  ed. Vida Nova, 1997.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006, 8ª ed.
CRANFIELD, C. E. B. The Gospel According to St. Mark. Cambridge: Cambridge University Press, 1966. 
GUTHIRIE, Donald. New Testament Introduction. Illinois: Inter-Varsity Press, 1980.
LEAL, João. Os Evangelhos e a Crítica Moderna. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1945.
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento – Marcos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
MULHOLLAND, Dewey M. Marcos – introdução e comentário. Tradução de Maria Judith Menga. São Paulo: Vida Nova, 1999. [Série Cultura Bíblica].
SOARES, Sebastião Armando Gameleira & JUNIOR, João Luiz Correia. Evangelho de Marcos, v.1, ed. Vozes, Petrópolis, 2002.
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
TORREY, C. C. The Four Gospels, 2nd ed. New York: Harper, 1947.
_______________________________
[1] A palavra "sinótico" (synoptico) vem do grego synoptikós de synopsis (syn, com +ópsis, visão) e significa ‘o que tem a mesma visão, ou mesma perspectiva'. Veja mais sobre este assunto - http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/152863/SINOTICOS-INTRODUCAO/
[2] Nas versões em português Lucas tem 40 páginas, Mateus 37 e Marcos 23; Lucas possui cerca de 1.147 versículos, Mateus tem 1.068, enquanto que Marcos possui quase metade disso, apenas 661 versículos.
[3] A palavra ‘texto' vem do latim ‘tecer' de maneira que o escritor vai tecendo sua história e/ou narrativa. No caso particular de Marcos sua "tapeçaria" trás múltiplas tonalidades e cores tornando seu texto vivido e atrativo de maneira que encanta e fascina seus leitores.
[4] A ira de Deus descreve o desagrado de Deus em relação à maldade humana, mas sempre esta vinculada a um apelo à mudança ou arrependimento (Dt 9.7,8, 22; Is 60.10; Sl 6.1; 38.1).
[5] O particípio "profundamente entristecido" (syllypoumenos), usado somente aqui no NT, é a forma intensiva do verbo "ser triste ou chorar."
[6] O "coração duro" (melaphor) sugere que as pessoas fecharam-se a palavra de Deus(Ez 3.7, Atos 28.27; Rom 2.5), que também descreve os discípulos em 6.52 e 8.17.


Governantes dos Impérios da Babilônia e Medo-Persa (Período do exílio e pós-exílio)


A história da nação de Israel/Judá está entrelaçada com a história dos grandes impérios. Esta lista inclui apenas os governantes que aparecem nos relatos do Primeiro Testamento durante o período exílico e pós-exílio de Israel e Judá.
Nabucodonosor:   Ele era o filho de Nabopolassar[1] e governou a Babilônia durante quarenta anos (602-562 aC),   Nabucodonosor provou ser um líder militar capaz antes de sua ascensão ao trono, em particular, ele ganhou a batalha crítica de Carquemis enfrentando um dos mais extraordinário governante egípcio o Faraó Neco II  (605 aC). Ele conquistou a SíriaPalestina e a Fenícia (Tiro) antes de voltar a Babilônia para tomar o lugar de seu pai como governante do reino. Em 586 aC, ele havia invadido Jerusalém e levado um numero expressivo de habitantes de Judá e Benjamim para o cativeiro (entre eles Daniel e seus três amigos). A Babilônia expandiu durante o seu reinado, e ele completou um impressionante conjunto de projeto de arquitetura, incluindo o famoso Jardins Suspensos da Babilônia.   O nome de Nabucodonosor ocorre com frequência em vários livros do Primeiro Testamento, principalmente, nos escritos proféticos de Daniel.
 Belsazar: Um descendente de Nabucodonosor e reinou na Babilônia por cerca de 14 anos (c. 553-539).   Muito desse tempo ele foi orientado por um regente de seu pai, Nabonido. Foi ele que durante um banquete viu uma “mão escrevendo na parede” conforme registrado pelo profeta Daniel no capitulo 5. Segundo o relato do profeta, Belsazar morreu como resultado do julgamento de Deus sobre sacrilégio por ele cometido, quando mandou trazer os utensílios sagrados dos judeus e bebeu vinho neles.
 Dario, o Medo: Essa figura misteriosa só aparece nas páginas do Primeiro Testamento.   O livro de Daniel afirma que ele assumiu o controle da Babilônia no rescaldo da morte de Belsazar. Ele, de acordo com Daniel, aprovou a lei infeliz que levou a experiência do profeta na cova do leão.   Vários estudiosos do Primeiro Testamento acredita que Dario pode ter sido outro nome para Gubaru, um associado de Ciro.
 Ciro: Este rei persa tomou o poder ao derrubar o governo de seu pai, Cambises I (539-530 aC ).   Suas façanhas militares impressionantes consolidou um império enorme sob seu governo, governando desde o Mar Egeu até a Índia.   Ele trouxe um fim ao domínio dos babilônios ao vencer a batalha de Opis (c. 538 aC).   Suas políticas iluminadas de governar permitiu que as pessoas conquistadas mantivesse sua cultura e religião, assim, ele permitiu que um grande número de judeus, bem como todos outros povos exilados, retornassem para Jerusalém para reconstruir a cidade em ruínas.   Ele desempenhou um papel importante na história registrada em II Crônicas, Daniel e Esdras. Durante uma campanha militar nas Montanhas Indianas, Ciro morreu em batalha.   Sua morte súbita e inesperada abalou o Império Persa, e, por um tempo, seu filho Cambises II assumiu o trono.   Com toda a probabilidade, os exilados judeus, sob a liderança Zorobabel, voltou a Jerusalém neste momento.   Cambises morreu sob circunstâncias misteriosas, na Palestina em cerca de 522 aC.
 Dario, o Grande: Um primo de Cambises II, Dario tinha afirmação duvidosa no tronoMedo-Persa, no entanto, ele aproveitou e consolidou o seu poder através de campanhas militares cruéis contra qualquer região que questionavam sua autoridade.   Apesar de ser um administrador talentoso e líder militar, suas ambições políticas lhe custou sérias derrotas militar nas mãos dos gregos (em particular, a famosa Batalha em Maratona em 490 aC).   Dario desempenhou um papel importante na reconstrução de Jerusalém.   Os esforços para reconstruir a cidade, é claro, começou com Ciro, mas os esforços para ressuscitar uma presença judaica em Judá continuou sob o reinado de Dario (c. 521-486 aC). Os profetas Ageu e Zacarias pregou durante o reinado de Dario.
 Xerxes: (também conhecido como Assuero). Este rei persa aparece com destaque na história de Ester. Ele  governou a Pérsia por cerca de 22 anos (c. 486-464 aC).  Ele era filho de Dario, o Grande, e neto de Ciro.   Assim como Dario, ele tentou tomar a Grécia, Com algum sucesso, mas em 480 aC sua frota sofreu uma perda irreparável na Baía de Salamina. Diversas fontes gregas e também o pequeno livro de Ester retratar Xerxes como um monarca ingênuo e indeciso.
 Artaxerxes: Esta é, provavelmente, o homem conhecido como Artaxerxes Longimanoem fontes seculares da época; ele governou os persas por cerca de 42 anos (c. 465-424)   Neemias serviu na corte deste imperador, e também foi ele que apoiou os esforços de Esdras e Neemias para completar a reconstrução do Templo e dos muros da cidade de Jerusalém. Durante seu período de governo inúmeros problemas administrativos e uma enorme instabilidade política produziram um desgaste continuo que produziram um enfraquecimento do império.

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Referências Bibliográficas
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CASTEL, Francois. Historia de Israel y de Judá. Desde los orígenes hasta el siglo II d.C. Estella: Editorial Verbo Divio, 1998.
DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos. São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 2 v. p.343.
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FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução de Josué Xavier; Revisão de João Bosco de Lavor Medeiros. São Paulo: Edições Paulinas, 1982.
HOFF, Paul. Os livros históricos. São Paulo: Editora Vida, 1996.
JOSEFO, Flavio. História dos Hebreus. Ed das Américas; s.d.; Vol 2: 279
LASOR, Wílliam S., HUBBARD, David A. e BUSH, Frederic, W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
LIVERANI, Mario. Para além da bíblia: história de Israel. São Paulo: Loyola; Paulus, 2008.
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NOTH, Martin. Historia de Israel. Barcelona: Ediciones Garriga, 1966.
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

[1] (626-605 a.C.). A oposição de Nabopolassar às forças assírias que marchavam contra a capital Nipur, a 97 km ao sudeste da Babilônia, impediu a invasão assíria. A triunfal resistência da Babilônia a este ataque resultou no reconhecimento de Nabopolassar como rei da Babilônia em novembro de 626 a.C. Ele posteriormente derrotou os assírios no norte, ao longo do Eufrates, empurrando-os até Harã e depois estabeleceu uma aliança medo-babilônica ratificada com o casamento de seu filho Nabucodonozor e Amytis, filha do filho de Ciaxares.


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Evangelho Segundo Mateus: Propostas de Estruturas


É sempre difícil estabelecer qual é a estrutura de um evangelho. Continuamente aparecem novas propostas de divisão do Evangelho que se sobrepõem e até mesmo tornam-se conflitantes entre si, o que torna quase impossível estabelecer um consenso sobre a importância destes esforços dos estudiosos.
Mas quando examinamos a narrativa inteira de Mateus é possível detectar ao menos quatro modelos estruturais:
Modelo dos Cinco Discursos: Vários estudiosos caminham junto com B. W. Bacon em que Mateus estrutura seu evangelho em cinco grandes discursos e/ou seções e que cada um destes discursos é precedido de uma narrativa e por esta razão ele propõe a divisão do Evangelho em cinco livros:
1º Livro         Narrativa caps. 3-4            Discurso caps. 5-7  (Sermão da Montanha)
2º Livro          Narrativa caps. 8-9  Discurso cap. 10 (Missão dos Apóstolos)
3° Livro         Narrativa caps. 11-12       Discurso cap. 13 (Sermão sobre o Reino)
4º Livro          Narrativa caps. 14-17         Discurso cap. 18 (Sermão Comunitário)
5º Livro         Narrativa caps. 19-22       Discurso caps. 24-25 (Sermão Escatológico)
Desta forma os caps. 1 e 2 tornam-se um preâmbulo e os caps. 26-28 um epílogo. Para Bacon a intenção de Mateus, ao estruturar desta forma seu trabalho, era fazer uma ligação direta com os Cinco Livros de Moisés e demonstrar que Jesus era aquele que veio para Cumprir toda a Lei.
Modelo Quiástico: Os defensores desta estrutura parte do costume dos escritores do AT em utilizar esta forma literária tanto na poesia quanto na prosa. A ideia é de enfatizar o ensino mais importante, colocando-o no centro da narrativa ou da poesia. O exemplo abaixo coloca como centro o cap. 13, mas outros colocam o cap. 14 ou o cap. 11.
1) 1-4, Nascimento – começo da atividade do Messias
    2) 5-7, bem-aventuranças – promulgação do Reino
             3) 8-9, autoridade do Messias e convite ao Reino
                       4) 10, discurso da missão
                                5) 11-12, o Messias rejeitado
                                              6) 13, parábolas do Reino
                                 5) 14-17, o Messias reconhecido pelos seus
                        4) 18, discurso eclesial
               3) 19-22, autoridade do Filho do Homem e convite ao Reino
     2) 23-25, maldições – realização do Reino
1) 26-28, morte, ressurreição, novo começo
Esta forma de estruturar a narrativa coloca como tema central o Reino de forma que tudo antes e depois realçam essa temática.
Modelo Geográfico: Os defensores desta estrutura partem da grande cisão existente entre cap. 16,20 e 16,21 – logo após a declaração de Pedro de que Jesus é o Messias, o evangelista declara: “A partir deste tempo, Jesus começou a mostrar aos seus discípulos...” (16,21). Esta frase nos reporta ao cap. 4,17 A partir deste momento, começou Jesus a pregar...”. Assim, a narrativa divide-se em duas partes principais: o ministério de Jesus na Galileia e a sua viagem para Jerusalém. Muitos chamam de “modelo marcano”, pois coincide bastante com o modelo proposto por Marcos. Todavia, essa estrutura acaba por deixar de lado os diversos marcadores literários que Mateus estabeleceu.
Modelo Cristológico: Vários estudiosos entendem que Mateus se estrutura no tema cristológico utilizando três grandes seções: caps. 1.1-4.16 – A Pessoa de Jesus, o Messias; caps. 4.17-16.20 – A Proclamação de Jesus, o Messias; caps. 16.21-28.20 – Sofrimento, Morte e ressurreição de Jesus, o Messias. O referencial literário é que ao final das duas primeiras divisões aparece a expressão “desde esse tempo” marcando um avanço na narrativa da história.
Conclusão
Nenhum esboço e/ou esquema poderá fazer justiça a esta preciosa obra escrita por Mateus, mas pelo menos nos ajudam a perceber a multiplicidade dos detalhes e a grandiosidade da obra completa.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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