sexta-feira, 16 de junho de 2017

Síntese da História de Israel e Judá

Período Pré-monárquico
            Após a liderança de Josué, quando os israelitas ocuparam a terra de Canaã, houve um longo período em que cada uma das doze tribos tinha plena autonomia e seus próprios líderes, “... tomando as suas próprias decisões políticas, militares e religiosas” (FOHRER, 1982, p. 111). Somente quando um inimigo comum ameaçava o bem-estar e segurança deles, surgia um líder regional, denominado de Juiz,[1] para liderar as tribos afligidas até que o inimigo fosse derrotado e expulso. As informações sobre esse período histórico de Israel estão registradas no livro denominado de Juízes.[2]
            É complicado encontrar uma cronologia harmoniosa deste período dos juízes israelitas, que fica entorno dos 320 anos.[3] Ao redor das doze tribos encontraremos diversos povos: os arameus, os moabitas, os filisteus, os cananeus, os midianitas e os amonitas, que periodicamente invadiam seus territórios trazendo toda sorte de dificuldades e opressões. A narrativa bíblica dá mais atenção para alguns do que para outros; entre os mais destacados temos Otniel, Eúd, Samgar, Gideão, Jefté, Abimelec, Sansão e Débora, como única representante feminina.[4]
            Eles eram suscitados pelo próprio Deus (Jz 2.16) e às vezes chamados também de “salvadores” ou “libertadores” (Jz 3.9, 15). Em alguns casos eles exerceram a função de governadores, o que não destoa do sentido da palavra “sapat” que além de “julgar” traz também a ideia de “governar”. Mas as ações dos juízes, além de expulsar os inimigos, tinham como objetivo trazer os israelitas de volta aos padrões da Aliança e afasta-los das armadilhas da idolatria que os assediava constantemente.
            O último dos juízes foi Samuel (1 Sm 1-9; cf. At 13.20).[5] Ele também exerceu as funções de Sacerdote e Profeta por um longo período. A relevância de sua história está no fato de que mesmo contrariado ele ungiu o primeiro rei de Israel, o benjamita Saul, demarcando assim o novo ciclo da história israelita dos reis.
O Reino Unido
            Esse período, curto, inicia-se a partir do momento em que Samuel ungiu, sob a direção de Deus, Saul como primeiro rei de Israel[6] e estende-se até a morte de Salomão.
            Apesar de sua unção como rei ser um desejo das tribos e de ocorrer de forma pública, Saul não conseguiu de fato unificar a doze tribos. Seus feitos bélicos foram positivos, todavia suas continuas desobediências em relação à vontade de Deus, sob a orientação de Samuel, lhe custaram muito caro, pois Deus ordena ao sacerdote/profeta que faça a unção sobre Davi, ainda muito jovem, para ser o novo rei de Israel, colocando assim um ponto final na linhagem real de Saul. O jovem Davi respeitou o rei Saul até a morte deste.
É com Davi que finalmente as doze tribos serão unificadas dando forma ao reino israelita. Diferentemente de Saul, apesar de inúmeros tropeços, Davi sempre se submeteu e se humilhou diante da vontade de Deus. Com sua liderança a nação expandiu seus territórios e venceu seus inimigos mais ferrenhos, adquirindo o prestígio e o respeito deles. Ao conquistar e estabelecer Jerusalém, que geograficamente está localizado entre a divisão natural das tribos ao norte e das tribos ao sul, como centro religioso-político de seu reinado, Davi inteligentemente criava um elo permanente de ligação entre os nortistas e sulistas, minimizando assim suas diferenças históricas.
Após a morte de Davi, pela primeira vez há uma sucessão dinástica no reino de Israel, com a ascensão de Salomão. A estratégia menos bélica e mais diplomática de Salomão implementou uma teia de alianças com os mais variados povos e nações. Do ponto de vista político-econômico foi um grande sucesso, todavia, religiosamente trouxe enormes problemas para a nação, que repercutira por todo o restante de sua história. Na medida em que se casava com as princesas destes reinos, elas vinham para Jerusalém com seus costumes, religiões e deuses, de maneira que Jerusalém vai se transformando em uma cidade sincretista. Nesta convivência plurirreligiosa oficiosa a população israelita acabou assimilando as outras expressões religiosas, que em termos de atrativos e licenciosidade eram muito mais interessantes do que a religião oficial javista, com seu calendário fixo de festas e suas leis morais inibidoras do comportamento libidinoso tão patente nas demais religiões.  Além de promover a promiscuidade religiosa Salomão infligiu sobre os seus súditos um peso excessivo de impostos e leis que os tornavam muito próximos de um sistema escravagista, o que foi fomentando uma grande revolta na população, principalmente dos que estavam ao norte, pois os ao sul, pela proximidade com o poder, acabavam tendo privilégios e mordomias (como diria o velho Salomão “não há nada de novo debaixo do sol”).
Com a morte de Salomão assume o trono seu filho Roboão. Acharcados de todas as formas pelo reinado de Salomão, as lideranças tribais solicitam uma audiência com o novo e jovem rei, onde expressam suas dificuldades e solicitam que as políticas econômicas sejam amenizadas. Orientado pelos velhos conselheiros de seu pai, para que atendesse a solicitação das tribos, o jovem e arrogante Roboão opta por fazer uma demonstração de autoritarismo e poder – resultando na divisão do reino, ficando ao norte as dez tribos e meia e ao sul apenas a tribo de Judá e a meia tribo de Benjamim. Desta forma por apenas um curtíssimo período o reino de Israel permaneceu unificado, iniciando um último período pouco mais alongado de reinados divididos, até a derrocada final com os diversos cativeiros que advirão.
Os Reinos Divididos
            Por um período aproximado de duzentos anos os dois reinos coexistiram. No lado ao norte, com o nome de Israel e a capital posteriormente estabelecida em Samaria, ficaram as dez tribos e meia. No outro lado ao sul, o reino assume o nome da tribo de Judá, ainda que continha a metade da tribo dos benjamitas, mantendo a capital Jerusalém, assim como o Templo planejado por Davi e construído por Salomão, símbolo maior da religião javista.
            A convivência dos dois reinos alternou período de pacificação com período de guerras sanguinolento. O reino ao norte foi o primeiro a cair, aproximadamente em 722 a.C. foram invadidos pelos Assírios e os moradores de Samaria e demais cidades foram transplantados para outros lugares e estrangeiros foram trazidos para habitarem no território israelita. O reino de Judá persistiu até aproximadamente 587 a.C., quando não resistindo à invasão de Nabucodonosor, que em uma última investida destrói a cidade de Jerusalém e seu precioso Templo, arrastando um número expressivo de judeus para as regiões da Babilônia onde permaneceriam por um período de setenta anos, preanunciado através de seus profetas.
Síntese Panorâmica do Reino de Israel (Norte)
            O Reino de Israel tem uma história extremamente conturbada, principalmente por não haver uma continuidade dinástica, de maneira que as sucessões ao trono foram periodicamente marcadas pela violência.
            Em relação ao reino vizinho eles possuíam um território muito maior, com uma população que lhe proporcionava um exército numeroso e também economicamente mais forte, pois detinham as principais vias por ondem passavam as riquezas comerciais. Todavia ficaram privados do centro cultual, o Templo em Jerusalém e também pela posição geográfica estratégica eram sempre alvos primários dos Impérios que precisavam controlar a região para avançar ou consolidar seu poder.
Em sua existência histórica os israelitas tiveram ao menos quatro dinastias diferentes sucedendo ao trono: 1ª Dinastia: Casa de Jeroboão (931- (931-909 a.C.); 2ª Dinastia: Casa de Baasa (909-885 a.C.); 3ª Dinastia: Casa de Onri (885-841 a.C.) e última a 4ª Dinastia: Casa de Jeú (841-753 a.C.).
            Politicamente o reino do Norte foi permanentemente instável, de maneira que em seus 209 anos de existência tiveram vinte reis, perfazendo uma média de dez anos por rei, mas com alguns por um ano e até menos tempo. Não faltam traições e conspirações entre a queda de um rei e sucessão do próximo.
            Religiosamente privados do Templo de Jerusalém construíram para si ao menos dois centros cúlticos em Betel e , posteriormente foi construído um Templo no monte Gerezim na então capital Samaria. Nos dois primeiros santuários foram confeccionados dois bezerros de ouro e estabelecidos sacerdotes que não eram da linhagem levita. Desde cedo demostraram facilidade em assimilar a influência e prática das religiões com as quais mantinham contato e que desde os dias de Salomão lhes eram familiares, sendo a religião de Baal a mais marcante entre todas.
            Diversos profetas levantaram-se periodicamente prenunciando o fim do reino de Israel se permanecessem na mesma trajetória do sincretismo religioso e promiscuo que estavam vivendo. Todavia, em raríssimos e curtíssimos momentos os reis e moradores do Norte deram ouvidos às mensagens dos profetas, de maneira que o tempo do fim chega através do Império Assírio.
O rei assírio Salmaneser, depois de conquistar completamente o território israelita, deixa como seu rei-vassalo Oséias, poupando tanto a capital Samaria assim como a sua população. Entretanto, logo fica sabendo que Oséias esta conspirando com o rei do Egito para tentar libertar Israel do domínio assírio e que também já não paga os tributos como antes. Afrontado pelo comportamento de seu vassalo israelita Salmaneser, em 722 a.C., traz uma vez mais seus exércitos e desta vez destrói a cidade, leva preso o rei Oséias, e transplanta cativo para Assíria todo o povo, fazendo os israelitas habitarem em Hala e em Habor, junto ao rio Gozã, e nas cidades dos medos (cf. II Rs.17.3-6 - II Rs.18.9-12). Trouxe em lugar dos que levara (cf. 2 Rs 17.24) povos da Babilônia, para habitar a Samaria. Entre os povos relacionados no texto bíblico, gente de “Cuta, de Ava, de Hamate e Sefarvaim”, dos quais convém destacar os de Cuta.[7]
Aproximadamente 208 anos após a divisão do Reino Unido, termina a História dos reis de Israel, desde quando estes decidiram se separar da casa de Davi e andar longe dos caminhos do Senhor.
Assim o reino Norte foi para o cativeiro, não foi pelas iniquidades de Oséias; o copo das iniquidades de Israel vinha-se enchendo havia séculos. Os pecados de Oséias foram a última gota que fez transbordar. (Comentário do Dicionário John D. Davis).
Síntese Panorâmica do Reino de Judá (Sul)
            Territorialmente o reino de Judá ficou diminuído, visto ter além deles apenas a meia tribo de Benjamim. Seus limites territoriais eram com o mar Morto, com as zonas desérticas e com os povos nômades, com exceção dos filisteus. Somente posteriormente conseguiram conquistar e controlar a via comercial que ligava o Negueve do Mediterrâneo ao Golfo de Aquaba, proporcionando a eles uma alternativa para sair do isolamento comercial que viviam.
            Politicamente sempre foi mais estável que seus vizinhos do Norte devido a manutenção da dinastia davídica, que tornavam as sucessões ao trono menos traumáticas e virulentas. Há diversos reinados que ultrapassam o período dos vinte anos, proporcionando períodos mais longos de estabilidade política. Manteve a capital política em Jerusalém.
            Religiosamente o reino de Judá também foi mais estável, pois além de manter o Templo de Jerusalém, maior símbolo da religião javista, manteve a dinastia sacerdotal levítica. Soma-se ainda o fato de que sua população era homogénea, possibilitando a manutenção de suas tradições religiosas e populares, sem tanta pressão estrangeira como ocorrida no reino vizinho do Norte. Seus grandes inimigos eram o reino vizinho de Edom e posteriormente o Império Babilônico. Manteve sua plena autonomia até 586 a.C.
            Apesar de todos os alertas pronunciados por diversos profetas para que se arrependessem e voltassem unicamente para o culto a Javé, alguns como Jeremias por longos quarenta anos, e mesmo assistindo a derroca total do vizinho reino de Israel, os reis e moradores de Judá escolheram se fazerem de surdos e cegos. O Império Assírio havia sucumbido diante do poderio babilônico.
            De forma arrogante, fazendo-se de surdo às orientações do profeta Jeremias e fiados em um apoio advindo do Egito, que nunca se realizou, o rei Jeoiaquim [Eliaquim][8](608-598) se indispõe com o poderoso império Babilônico[9] e o resultado é a primeira invasão de Jerusalém pelas tropas babilônicas em 606 a.C. (cf. Daniel 1.1-2; II Crônicas 36.6 e 7), que nessa ocasião apenas saqueiam parte dos utensílios do Templo e levam consigo jovens príncipes de Judá para serem preparados para governar no império, entre eles o jovem Daniel e seus amigos (Dn 1.1-6).[10]
            Em Jerusalém, Nabucodonosor compeliu o rei judaico Jeoiaquim a renunciar ao tratado com o Egito e a assinar um termo de compromisso com Babilônia. Mas a lição não foi apreendida e Jeoiaquim, inflamado por sua corte descontente com o jugo pesado babilônico, mais uma vez se revoltam contra sua suserana, deixando de pagar os tributos devidos, de maneira que Nabucodonosor marcha uma vez para Jerusalém (597 a.C.).
            Entretanto, antes que os exércitos babilônios cercassem a cidade, o rei Jeoiaquim morre, provavelmente assassinado por seus próprios súditos em ação de desespero para aplacar a ira de Nabucodonosor. De maneira que, a fatura foi paga por Joaquim [Jeconias] que herdara o trono apenas três meses antes e viu os babilônios despojando totalmente o Templo dos seus tesouros, o próprio rei e sua família acabaram sendo levados, assim como a elite judaica, incluindo artesões e soldados, sendo um número de dez mil conduzidos à deportação.[11] Permanecendo apenas o povo pobre da terra (cf. II Reis 24.8-16).  
Em seu lugar assume por imposição de Nabucodozor o ambíguo Matanias, cujo nome foi modificado para Zedequias. Ele não conseguiu o respeito da população que ficara, pois havia sido colocado no trono por Nabucodozor e estava acossado continuamente pelos antibabilônicos para que se aliasse novamente ao Egito contra Nabucodonosor; uma vez mais entra em cena o profeta Jeremias que alerta para a estupidez de se voltar contra o jugo babilônico, mas suas palavras caíram em ouvidos mocos e ainda foi classificado como traidor e aliado dos dominadores.[12] O fim do reino de Judá está chegando rapidamente.
Pela terceira e última vez a cidade se vê cercada pelo exército babilônio (586 a.C.) que após quase dois anos de sítio entra na cidade e diferente da vez anterior, deixam o magnifico Templo construído por Salomão e a própria cidade de Jerusalém com suas imensas e fortificadas muralhas reduzidas a cinzas e a montões de ruínas (cf. II Reis 25.8-9 e II Crônicas 36.17-21).
O fraco e titubeante rei Zadequias tentou fugir com seus familiares e a guarda de elite à noite, mas foram capturados na planície de Jericó e trazidos à presença de Nabucodonosor em sua sede militar em Ribla, ao norte de Damasco. Sua sentença foi de uma crueldade insana, pois teve que ver um a um de seus filhos serem mortos e em seguida foram vazados seus olhos e levado acorrentado para a Babilônia onde ficou até morrer. Os que não morreram pela espada foram deportados para a Babilônia.[13]
Ficaram na terra devastada apenas os camponeses pobres e sem condições de se organizarem para criarem problemas à Babilônia (2 Rs 25.12; Jr 52.16). A região de Judá tem uma ocupação militar permanente; perde toda sua autonomia política passando a ser tão somente uma província e finalmente foi anexada à província de Samaria; ocorreu um assentamento de uma elite estrangeira em substituição a elite nativa deportada (DONNER, 1997, p. 343).
Com a destruição de Judá o trono de Davi nunca mais foi ocupado por um de seus descendentes, até que Jesus Cristo o reivindica, como cumprimento das profecias messiânicas, conforme registro evangélicos.
Esta derradeira deportação de 587/6 demarca uma nova e profunda transformação na forma de ser dos judeus, que somente por um brevíssimo tempo nos dias dos macabeus, já no governo do império romano, haverão de experimentar um gostinho de autonomia nacional, mas que uma vez mais terminará em tragédia. Mesmo depois do edito de Ciro, rei da Pérsia, em 538 a.C., que assinala o início do retorno dos exilados, a nação judaica passara de mãos em mãos dos grandes impérios e seus projetos de expansão e domínio.
            Este desterro babilônico, que muitos datam em 605 a.C., perdurou por setenta anos, cumprindo a profecia de Jeremias (29.10), foi uma dura e disciplinar escola para os judeus, e eles jamais serão os mesmos, pois também demarca a reestruturação e consolidação do judaísmo enquanto religião e identidade nacionalista. A partir deste cativeiro babilônico os judeus começam um processo continuo de se espalharem por todos os lugares, conhecido também como movimento da Diáspora judaica, de maneira que os mais variados historiadores registram que em todos os lugares da terra podiam ser encontrados judeus.
Mudanças Significativas a Partir do Cativeiro e Diáspora
            O judaísmo tornou-se uma forma de se protegerem contra a idolatria dos demais povos. A lembrança dolorida das mensagens proféticas de que seriam castigados com o desterro por causa da idolatria os levariam a rejeitar radicalmente o contato com outras religiões.
            Se inicialmente o cativeiro produziu um desencanto com a religião javista, na medida em que o tempo passa e as mensagens proféticas vão sendo resgatadas, percebe-se cada vez mais nitidamente que todas elas se cumpriram explicitamente: a total destruição de Jerusalém (Jeremias e Ezequiel); a posterior queda da poderosa Babilônia e a libertação dos judeus pelo persa Ciro (Isaías), e as muitas mensagens do reino messiânico (Isaias) aqueceram os corações e as esperanças patrióticas dos exilados e dispersos.
            Destituídos do símbolo maior de sua religião, o Templo, encontram na Torá e na Sinagoga a forma de manterem e expressarem sua fé. Cresce entre eles o zelo pelas leis mosaicas, a observância do sábado, e todas as cerimônias religiosas permitidas pelo governo babilônico. Cristalizou-se entre eles que o cativeiro fora um castigo de Deus por terem se afastado dele (cf. Esdras 5.12). A Sinagoga torna-se cada vez mais o centro de culto e estudo das Escrituras, ocupando o lugar do Templo. Não era permitido oferecer sacrifícios, como no Templo, mas o profeta Ezequiel “ensinou os judeus do exílio [diáspora] a substituir as cerimônias do templo com oração, confissão e estudo. Este foi o começo do sistema da sinagoga o qual serviu também como uma preparação para as igrejas cristãs” (HOFF, 1996, p. 274).
            Este novo zelo pelos aspectos religiosos da vida levou a um apresso cada vez maior aos textos bíblicos. Torna-se necessário estabelecer um cânon, pois proliferam toda sorte de textos “sagrados”. Uma seleção de literatura sacra começa a ser realizada a partir dos livros de Moisés (Pentateuco) e dos escritos históricos e das mensagens dos profetas.
            Outro aspecto relevante é que a religião se torna cada vez mais individual e menos nacional. Sem a presença do Templo a fé torna-se uma expressão individual e principalmente os profetas do exílio Jeremias e Ezequiel referem-se ao Novo Pacto e/ou Aliança onde cada “crente” poderia estabelecer sua comunhão pessoal com Deus.
            O idioma, tão caro ao espírito nacionalista, sofre forte impacto com a língua vernácula do aramaico babilônico,[14] acabando por ser assimilado como dialeto popular, permanecendo mesmo depois do cativeiro, sendo utilizado na Palestina nos dias de Jesus.
            Também é a partir do cativeiro babilônico que passaram a se referirem a si mesmo como judeus, pois somente eles permaneceram com uma identidade civil-religiosa distinta das demais nacionalidades. E assim são conhecidos até hoje em todos os lugares onde vivem.
            Ainda é importante destacar que os judeus deixaram de ser um povo agrícola e pecuarista, para se constituírem em um povo comerciante e urbanistas. No cativeiro e posterior diáspora aperfeiçoaram as técnicas comerciais de maneira que muitos vieram a adquirir grande riqueza. Provavelmente esse foi um dos fatores que inibiram ou desmotivaram a grande maioria dos exilados em retornarem para uma Palestina devastada, após o decreto de Ciro. Preferiram espalharem-se pelas grandes cidades e centros comerciais como a própria Babilônia, Susa e Alexandria.
            Desta forma havia um número muito maior de judeus da diáspora, do que os que moravam na Palestina. Mas que após a reconstrução do Templo, faziam questão de visitarem periodicamente e para onde destinavam verbas substancias, dando assim sustentação econômica à cidade e ao Templo.
            Ao retornarem para reconstruírem o país e o Templo, com ausência de um rei judeu, tornaram-se governados pela linhagem sacerdotal, que diametralmente tornaram-se genuínos déspotas e amantes do poder, transformando a religião judaica em instrumento de enriquecimento pessoal e de domínio político, perpetuando a máxima salomônica de que “não há nada de novo debaixo do sol”.
            Os judeus da diáspora foram muito importantes para o movimento inicial cristão. Os primeiros missionários cristãos, tendo na figura do apóstolo Paulo seu modelo maior, utilizaram abundantemente das sinagogas como ponto de partida para propagação da nova mensagem evangélica, pois não apenas os judeus, mas principalmente seus prosélitos estavam mais adequadamente preparados para compreenderem a vinda e obra do Cristo anunciado pelos cristãos. Na verdade, a mensagem cristã-evangélica está fundamentada nas Escrituras judaicas, então compactada em um cânon e traduzida para uma língua mundial, o grego koiné, popular e mais facilmente compreendido, de maneira que as Escrituras cristã será toda ela escrita neste idioma, ainda que seus escritores fossem judeus, com exceção de Lucas.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências Bibliográficas
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DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos. São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. 2 v. p.343.
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FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução de Josué Xavier; Revisão de João Bosco de Lavor Medeiros. São Paulo: Edições Paulinas, 1982.
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TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

[1] Aquele que governa, ministra a justiça, o julgamento e a proteção e, como tal, e que na literatura bíblica é representante de Deus.
[2] O livro de Juízes consiste em três blocos bem definidos de materiais: a) um breve repasse da ocupação de Canaã pelos israelitas (Jz 1.1—2.5); b) a história dos juízes (2.6—16.31); c) e, finalmente, um apêndice que fala sobre a migração dos danitas e o conflito interno contra os benjamitas (Jz 17—21).
[3] A ausência de referências às grandes nações como os egípcios, os hititas e as nações da Mesopotâmia, nos registros bíblicos dos juízes, dificultam bastante a datação dos acontecimentos registrados. E Archer lembra que houve em diversos casos em que as atuações dos juízes que se sobrepuseram (2005, p. 200).
[4] Um segundo grupo de juízes são Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom, dos quais os textos bíblicos pouco nos informam.
[5] O livro de 1 Samuel fornece o material que é fonte básica para a vida de Samuel.
[6] Ele é o único rei de Israel que não tem especificado o tempo de seu reinado. Flávio Josefo diz que Saul reinou trinta e oito anos, sendo 18 anos durante a vida de Samuel e 20 anos depois de sua morte. (JOSEFO, s.d., v. 2, p. 279).
[7] O historiador Flavio Josefo os destaca como sendo os chutenses, povo de Chut, uma província da Pérsia que tem este nome por estar às margens de um rio com o mesmo nome. Josefo sempre que se refere à gente da Samaria os chama de chutenses. (História dos Hebreus, Vol. 3, Pag. 217)
[8] Eliaquim, a quem o Faraó mudou o nome para Jeoiaquim, foi igualmente instalado no trono por Neco que lhe impôs uma pena tributária de cem talentos de prata e um talento de ouro. (2 Rs 23:33). Passados dois anos deixaria de pagar tributo a Neco para começar a pagar para Nabucodonosor. Começou a governar aos 25 anos de idade e reinou por 11 anos (2 Rs 23:36).
[9] De acordo com 2 Rs 24:1 “nos seus dias subiu Nabucodonosor, rei de Babilônia, e Jeoiaquim ficou três anos seu servo; depois se virou, e se rebelou contra ele. ”
[10] Nesse momento histórico, o reino de Judá era um aliado do Egito. Com a vitória do rei de Babilônia sobre um posto militar avançado do Egito, localizado em Carquêmis, próximo ao rio Eufrates, muitos quilômetros ao norte, o Egito praticamente perdeu o controle que mantinha sobre a Síria e a Palestina, permitindo que Nabucodonosor marchasse livremente sobre Jerusalém, ao sul.
[11] Entre esses deportados estava o profeta Ezequiel.
[12] A ambiguidade de Zedequias fica patente em que ao mesmo tempo que permitiu que se matasse o profeta Jeremias, em outro momento o ouviu em segredo, enquanto conspirava juntar-se ao Egito contra Nabucodonosor.
[13] Nabucodonosor tomou conhecimento das profecias de Jeremias, que insistiu em que os judeus não se rebelassem, e permitiu que o profeta permanecesse na Palestina com os não exilados. Todavia, pouco tempo depois um agitador judeu chamado Joanã assassinou o governador Gedalias, que fora nomeado por Nabucodonosor, que reagiu de forma violenta, obrigando os revoltosos a fugirem para o Egito e levaram Jeremias contra sua vontade (cf. Jeremias 39.11-14 e 40.6).

[14] O aramaico é a língua predominante na Babilônia, tendo sua origem na fusão das línguas semitas da região. Essa língua tem um caráter marcantemente aglutinador, favorecendo a transformação da Babilônia num vasto império, de maneira que o aramaico se torna a língua comum de um extremo ao outro do Oriente Próximo.

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