sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O CONTEXTO GEOGRÁFICO DO REGISTRO BÍBLICO

            Como já abordamos a Bíblia não é um livro cientifico e também não se constitui em um manual de geografia, todavia, suas informações podem serem amplamente situada no tempo e espaço, de maneira que os eventos nela registrados são reais e não fictícios.
            O objetivo da Bíblia é registrar os eventos passados tanto de pessoas, quanto de povos e nações, e para estas informações sejam melhor compreendidas pressupõe-se que seus leitores possuam referências e conhecimentos geográficos. Um exemplo demonstrativo pode ser visto nos registros das profecias de Amós (captos 1-2). Ele esta anunciando o eminente juízo de Deus que esta por vir sobre seus ouvintes (Israel) para isso ele começa por anunciar o juízo sobre as nações mais distantes: Damasco, Gaza e Tiro, menciona algumas mais próximas como Edom, Amom e Moabe, chega até a vinha e co-irmã nação de Judá e finalmente os próprios israelitas. Olhando um mapa da época é possível perceber a dramaticidade da mensagem do profeta, que não cita as cidades aleatoriamente, mas da proximidade com seus ouvintes.
            O livro de Gênesis inicia com um relato poético e estilizado da Criação, mas, ao repeti-la no capítulo dois insere o Jardim do Éden, que de acordo com o escritor esta localizado a Leste (lado Oriental – Gn 2.8), e mais ainda, ele faz referência a um rio que saindo do Jardim ramifica-se em quatro vertentes, os quais ele nomeia (Gn 2. 10-14).
            A partir do capítulo três, onde se registra a queda da raça humana e sua expulsão do Jardim do Éden, inicia-se a peregrinação da raça humana e sua ocupação geografica do planeta Terra.
            O nosso propósito não é advogar se um determinado evento aconteceu ou não, mas se este acontecimento registrado fornece uma real configuração geográfica de maneira que através das ferramentas da geografia e da arqueologia se possa estabelecer o contexto em que o registro histórico se passa. O argumento aqui é simples, pois se o registro histórico preserva com exatidão o contexto em que os fatos aconteceram, porque não pode se pode ter a mesma precisão quanto os personagens aos quais se referem. E sendo assim, a Bíblia torna-se uma fonte histórica confiável.
            O objetivo principal desta matéria é proporcionar aos alunos uma consciência do mundo em que as narrativas bíblicas são definidas - o contexto
onde o texto a ser lido.

Os Patriarcas em Canaã

Canaã
Utilizamos o termo 'Canaã' aqui de forma livre para indicarmos especialmente a região ao sul Levante. Há várias alusões bíblicas a sua extensão, mas não coincidem com precisão. A "Tabela das Nações" (Gn 10.15-19) sugere que seu compilador tinha uma concepção de Canaã a partir de Gaza, no sul, além de Sidon, no que se refere ao norte até o Hamate. Entretanto, uma outra descrição dos limites de Canaã (Nm 34.2-12) coloca o limite norte em Lebo-Hamate (Lebweh), localizada mais ao sul. Números 33.51 sugere que Canaã abrangia toda área a oeste do Jordão, entretanto Números 13.29 registra que os cananeus habitaram a área costeira e a terra ao longo tão somente do Jordão. Não há aqui qualquer informação que venha a desvalorizar a veracidade histórica, mas apenas o fato de que o escritor teve acesso a informações diferentes quanto as informações registradas.

Abraão
Como já foi referido a narrativa bíblica apresenta Abraão (originalmente chamado de Abrão) como tendo se estabelecido a partir de Ur, no sul da Mesopotâmia e de empreender viagem via Harã para a terra de Canaã.
É oportuno notarmos que nas narrativas históricas dos Patriarcas, faz-se referências à construção de altares e escavação de poços, como que dando autenticação e estabelecendo direitos sobre aqueles locais.
Abraão é apresentado como tendo chegado a Siquém onde constrói um altar (Gn 12.6-7), passando em seguida para um ponto entre Betel e Ai, onde erigiu um outro altar (Gn 12.8). Depois ele se dirige para o sul do Negueve (Gn 12.9) e desce até o Egito (Gn12.10-20). Depois da experiência do Egito, ele retorna pela mesma via até o local entre Betel e Ai (Gn 13.1-4).
É neste ponto que Abraão resolve separar-se de seu sobrinho Ló, que escolhe o vale do Jor narrativa bíblica define a decisão de Abraão e vai se estabelecer em Sodoma, enquanto Abraão permaneceu a oeste do Jordão, montando seu acampamento em Manre, uma região de carvalhos,  perto de Hebrom (Gn 13). Alguns pesquisadores tem procurado identificar este rei com outros personagens biblicos, em períodos posteriores (Hamurabi da Babilônia), todavia não utilizam argumentos convincentes.
O capítulo descreve como um grupo de reis das Cidades da Planície (Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar) se rebelaram contra o rei de Elão Quedorlaomer, e se reuniram no Vale de Sidim (que a narrativa bíblica identifica com o "Mar Morto”. Eles chegam até Sodoma e Gomorra e saquearam suas cidades e levam cativo Ló sobrinho de Abraão. Então Abraão monta uma equipe e persegue os sequestradores até o norte de Dan, e para o norte de Damasco, recuperando Ló e os bens saqueados. Ao retornar desta vitoriosa campanha Abraão recebe a bênção do rei Melquisedeque de Salém (isto é, Jerusalém).
Mais tarde, Abraão deixa a região de  Manre e viaja através do Neguebe até Gerar, onde encontra o rei Abimeleque com quem negocia a propriedade em Beer-Seba (Gen. 20; 21. 22-34). Enquanto estava morando no Neguebe que Sarah deu a luz a Isaque, o filho prometido (Gn 20.1-8). A narrativa também registra a prova que Deus faz com Abraão de Deus, solicitando que tomasse a Isaque e o levasse "à terra de Moriá" (Gn 22: 2; provavelmente Jerusalém - ver 2 Cr. 3.1) e o oferecesse como sacrifício, mas no momento crucial Deus mesmo lhe proporcionou um substituto, na forma de "um carneiro preso num mato” (Gn 22.13). Abraão também adquire uma caverna em Macpela, a leste de Manre, onde sepulta sua esposa Sarah (Gn 23); posteriormente, ele também foi enterrado lá (Gn 25.7-10).

ISAQUE
Dos Patriarcas Isaque é o que menos informação possui, ocupando um espaço limitado na narrativa bíblica, de modo que ele fica dentro do contexto de seu pai Abraão. Mas vale ressaltar que ele também se estabeleceu em Gerar e encontrou Abimeleque, e que ele também está associada com a escavação de novos poços e altares, continuando a demarcação territorial, como do poço em Beer-Seba e outros poços na vizinhança (Gn 26). Estas tradições sublinham a importância de suprimentos de água, como o de Berseba para aqueles que viveram ou viajaram através da árida região do Negueve.

JACÓ
A história de Jacob, como a de Abraão, associa-se com a construção de santuários. De acordo com o relato bíblico, Jaco utilizando um artificio  enganoso obtém de seu pai Isaque a bênção de primogenitura, por direito de nascimento de seu irmão Esaú (Gn 27). Ele, então, partiu de Berseba para Padã-Arã (Alta Mesopotâmia), em busca de uma esposa, e foi no caminho que ele parou em Betel durante a noite e teve seu famoso sonho da escada unindo
o céu e a terra, ali ele faz um altar de pedra demarcando o lugar (Gn 28). Depois de muitas aventuras ele finalmente retorna com suas esposas Lia e Raquel. Em Gênesis 32 temos a descrição de sua luta com o Anjo do Senhor, provável referência ao próprio Deus (versículo 28), perto do rio Jaboque em Penuel / Peniel (versos 30 e 31). A narrativa também fala do encontro com seu irmão Esaú, depois que ele foi pelo caminho de Sucote para Siquém, onde erigiu um altar, enquanto Esaú voltou a Seir (Edom) (Gn 33.16-20). Posteriormente Jacob passou novamente a Betel e construiu um altar (Gn 35.1-7). Raquel morreu e foi enterrada perto de Belém (Gênesis 35: 19). Jacob
em seguida, foi para perto de seu pai Isaque em Mambré; ali Isaque morreu e foi enterrado por seus filhos (Gn 35: 27-9).

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
ABBAGNANO, Nicola (1901-1990). Dicionário de Filosofia. Tradução da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bossi; revisão da tradução dos novos textos Ivone Castilho Benedetti, 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ADAMS, J. McKee. A Bíblia e as civilizações antigas. Rio de Janeiro: Dois Irmãos, 1962.
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Geografia bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 1987
KRESTSCHMER, K. História dela geografia. 3ªed. Barcelona: Editorial Labor, 1942
MORA, José Ferrater. Diccionario de filosofía (A-K), 5ª ed. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1964.
ROCHA, Genylton Odilon Rêgo da. Geografia clássica – uma contribuição para história da ciência geográfica. Presença - Revista de Educação, Cultura e Meio Ambiente, dez. nº 10, vol. I, 1997 (Universidade Federal de Rondônia). Disponível em: http://www.revistapresenca.unir.br/artigos_presenca/10genyltonodilonregodarocha_geografiaclassicaumacontribuicaoprahistoriadaciencia.pdf. Acesso em 04/08/2014.


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