sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O MUNDO DO APOSTOLO PAULO: A Religião

Templo de Diana (Artemisa) em Éfeso
É muito importante se desejamos compreender corretamente as correspondências produzidas pelo apóstolo Paulo, termos uma compreensão mínima do mundo greco-romano em que ele está inserido. Quando compreendemos o seu contexto histórico passamos a ter uma perspectiva mais clara de seu ministério e de sua mensagem cristã.
Conhecermos o contexto religioso no primeiro século torna-se indispensável para compreendermos a mensagem cristã de Paulo e da igreja primitiva. O livro de Atos nos fornece ao menos dois episódios que nos ajudam a compreender as crenças e práticas religiosas daqueles dias.
No capítulo dezenove, lemos sobre os problemas que Paulo e seus companheiros de ministério enfrentaram na cidade de Éfeso. Os artesões que vivam da confecção de miniaturas da deusa Diana se revoltaram contra os cristãos que pregavam “que não são deuses os que são feitos pelas mãos humanas” (19.26). Naqueles dias, portanto, a religião era uma parte integrante da vida dos cidadãos. Os cultos apoiados pelo Estado (Império Romano) eram expressões religiosas em que todos deveriam participar ativamente. O historiador Everett Ferguson (1993, p. 188) destaca que “as crenças e práticas religiosas mais arraigadas, tanto na Grécia como em Roma ... estavam associadas com o culto cívico tradicional” O Governante financiava os mais diversos cultos para colher os frutos desta religiosidade [assim como os políticos visitam toda sorte de templos religiosos para ganhar votos].
Cada cidade tinha seu deus padroeiro (Paulo se sentiria no primeiro século no Brasil, com um santo padroeiro para cada dia do ano). A cidade de Éfeso cultuava Diana, a deusa da natureza e da procriação. A estátua dela estava colocada dentro do templo magnífico para ela construído, quatro vezes maior do que o Panteão de Atenas. As divindades como Diana eram honradas com festivais, orações e sacrifícios. As festividades anuais incluíam banquetes, entretenimentos, sacrifícios, procissões, competições atléticas e a realização de ritos de mistério. As orações incluíam invocações, adoração e petições, visando receber o favor da divindade. Os sacrifícios eram oferecidos para adoração, agradecimento ou suplica.
Os distúrbios em Éfeso, causados pelo ensino apostólico, foram impulsionados em parte pelas perdas econômicas, pois os artesões receavam perder seus negócios. Mas Lucas registra que por mais de duas horas uma pequena multidão gritava “Grande é Diana dos efésios! ”, o que nos indica que a questão econômica não era a única coisa que importava. Esta força dos cultos cívicos era tão grande que os imperadores romanos viam vantagens de se identificarem com eles em vez de combatê-los.
A cidade de Éfeso era também um importante centro de magia que era um outro aspecto da religiosidade do primeiro século. No mesmo capítulo dezenove lemos que os que praticavam magia ou a feitiçaria abandonaram suas práticas e queimaram seus livros declarando de forma pública sua nova fé.
Estes livros religiosos dos efésios continham palavras e formulas secretas que eram utilizadas para coagir os deuses a cumprir suas próprias vontades. Os praticantes buscavam riqueza, saúde e poder (seria a raiz da teologia da prosperidade?); também eram utilizadas para manipular os sentimentos de outras pessoas. O conhecimento do nome verdadeiro de uma pessoa significava ter poder sobre essa pessoa, pois os nomes e as formulas eram mescladas para se produzir uma magia forte.
O ministério de Paulo foi extremamente árduo, pois tinha que levar a mensagem do Evangelho a um mundo que tinha uma multidão de crenças religiosas. Isto deve servir de estimulo para nós hoje, que vivemos numa sociedade cada vez mais pluralista, pois também pesa sobre nós comunicarmos esta mesma mensagem do Evangelho.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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NT – Epístolas Paulinas

Referências Bibliográficas
FERGUSON, Everett. Backgrounds of Early Christianity, 2nd ed. Michigan: Grand Rapids, Eerdmans, 1993.

Obra de Referência sobre o Apóstolo Paulo

CROSSAN, J. D.; REED, J. L. Em busca de Paulo: Como o Apóstolo de Jesus opôs o Reino de Deus ao Império Romano. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2008.

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