quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Natividade Segundo Mateus – Genealogia

Estamos nos aproximando mais uma vez da época natalina, onde recordamos os fatos relacionados ao nascimento de Jesus Cristo.
Evidentemente que são muitos aqueles que criticam esta e outras datas do calendário cristão, argumentando que os fatos evangélicos não aconteceram nesta época do ano. 
Com certeza Jesus não nasceu em 25 de dezembromas a questão não está na data exatamas no fato incontestável de que Jesus nasceu. 
Portanto, quando comemoramos o natal trazemos à nossa memória o maior e mais extraordinário acontecimento na história da humanidade - nasceu Jesus o Salvador!

NATAL NOS EVANGELHOS
Cada Evangelista inicia sua narrativa sobre Jesus de uma forma diferente:
MARCOS nos coloca como uma daquelas pessoas que presenciaram o momento em que JESUS se submete ao Batismo de João no rio Jordão – e nos faz ouvintes dá voz do céu que declara: “ESTE É O MEU FILHO AMADO
JOÃO – transcende as fronteiras do Tempo e nos arremessa para o momento em que DEUS resolve trazer a existência o MUNDO – e afirma que JESUS estava ali desde o Princípio – “O VERBO ESTAVA COM DEUS, O VERBO ERA DEUS ... e o Verbo se fez Carne (gente) e Habitou entre Nós, cheio de graça e de verdade”
LUCAS – Opta por registrar a Primeira Cantata de Natal da História – diversos Cânticos entoados por diversos personagens que irão participar ativamente do NASCIMENTO DE JESUSo cântico de Isabel; o cântico de Maria; o cântico de Zacarias; o cântico do ANJOS e o cântico do sacerdote Simeão....

MATEUS O evangelista inicia sua narrativa com uma genealogia (1.1-17)
AINDA que pareça enfadonha e cansativa HÁ RAZÕES muito fortes para que Mateus comece desta forma sua narrativa evangélica.
Vejamos alguma dessas razões:
É que os primeiros LEITORES de Mateus são de origem judaica e eles davam VALOR muito grande a esta questão genealógica.
De forma mais acentuada após o cativeiro da Babilônia, os judeus passaram a valorizar muito as genealogias, pois era fundamental para reivindicarem seus direitos civis e religiosos
Desde a posse de Canaã a titularidade da terra era definida segundo as tribos, as famílias e as casas dos pais (Nm 26.52-56; 33.54).
 No livro de Neemias há o registro de que alguns levitas foram impedidos de continuarem exercendo suas funções sacerdotais porque não puderam comprovar suas descendências genealógicas - Ne 7.63-65; ao se casar a esposa do sacerdote tinha que comprovar sua linhagem arônica em até cinco gerações;
o rei Herodes era menosprezado pelos judeus por ter ascendência edomita (NÃO ERA JUDEU PURO) e ele chegou a ordenar a destruição dos registros oficiais, sob a guarda do Sinédrio, para que ninguém tivesse uma linhagem mais pura que a sua.
PORTANTO, ao abrir seu relato evangélico com uma genealogia Mateus quer deixar claro desde as primeiras linhas que Jesus tem as credencias oficiais para REIVINDICAR seu oficio messiânico.

DOIS NOMES PRECIOSOS
Mateus apresenta seu personagem principal através de seus dois nomes - Jesus Cristo
 - Estes dois nomes se completam de forma maravilhosa. Jesus (Salvador) faz explodir em jubilo o coração crente, mas este nome fica ainda mais sublime e maravilhoso quando colocado ao lado do nome Cristo (Ungido). Assim, os dois nomes juntos querem dizer: "Salvador Ungido"; isto é, nosso Salvador é totalmente capacitado e habilitado para realizar a Obra da Redenção dos pecadores. 
Jesus vem do hebraico, que após o cativeiro ficou com a grafia de Jeshua, que significa "Jeová, o Salvador".
Os dois personagens do AT que recebem este nome são tipos: Josuéfilho de Num, é um tipo em sua função de libertador de seu povo; o sumo sacerdote Josué (Zc 3) o prefigura como nosso sumo sacerdote. 
Cristo era um adjetivo que se tornou nome próprio ao ser associado com Jesus (23.8-10), é a tradução da palavra grega "Messias", que no hebraico significa "Ungido".
As principais autoridades israelitas - rei (Jr 23.5; Mt 2.2), sacerdote (Sl 110.4; Hb 6.20) e profeta (Dt 18.15-19; At3.22) eram ungidos como símbolo da confirmação de suas funções especiais.                    
Jesus é o maior de todos eles, por isso é chamado de "o Cristo", pois, enquanto todos os anteriores a Jesus foram ungidos com azeiteJesus foi ungido pelo próprio Espírito Santo (Mt 3.16).

LINHAGEM REAL
Mateus coloca Jesus na Linhagem Real ...
Ele é filho de Davi, descendente direto da linhagem do maior dos reis de Israel, prerrogativa profética que identifica o Messias e vai aparecer com frequência na narrativa desenvolvida por Mateus. 
A própria estrutura desta genealogia conecta Jesus com Davi. Os três grupos de quatorze nomes, em que se subdivide, resumem a trajetória da dinastia davídica: o primeiro grupo apresenta a origem da descendência davídica; segundo, seu apogeu e declínio; o último grupo sua quase extinção.
Mas, assim como uma árvore pode ser quase totalmente dizimada, mas que restando apenas o tronco com a raiz, começa novamente a brotar e formar uma nova árvore, assim afirmavam as profecias messiânicas, Deus haveria de fazer ressurgir o reino davídico "então brotará um rebento do tronco de Jessé [pai de Davi](Is 11.1).
ATRAVÉS da GENEALOGIA Mateusdesde as primeiras linhas, declara em alto e bom som que Jesus é este rebento que vem para estabelecer um Reino Eterno.
BÊNÇÃO PARA TODAS AS NAÇÕES
Se Mateus tivesse restringido a genealogia até Davi, poderia dar a falsa impressão de que a SALVAÇÃO era exclusividade dos JUDEUS.
Por isso o Evangelista faz relação direta de Jesus com outra figura maior do povo judeu, "...filho de Abraão".
O próprio Abraão sabia que Isaque, o filho da promessa, era apenas um tipo daquele que haveria de vir (cf Jo 8.56; Hb 11.13, 17-19); e o apóstolo Paulo vai interpretar que Jesus era "o filho por excelência de Abraão" (cf Gl 3.16).
É por meio da fé em Jesus que Deus haveria de cumprir Sua promessa de abençoar todas as famílias da terra (Gn 15.6; Rm 4.3; Gl 3.6; cf Jo3.16) e não apenas os judeus. 
No desenvolvimento da narrativa Mateus reafirma este propósito divino: João Batista declara que Deus pode "suscitar filhos a Abraão" até mesmo das pedras (3.9); o próprio Jesus alerta que no "grande banqueta no Reino dos céus" muitos gentios se assentariam ao seu lado, enquanto muitos israelitas [descendentes de Abraão] seriam deixados de fora.
Assim, a identificação de Jesus como filho de Abraão tem enormes implicações quanto a obra de Jesus e a sua abrangência Mundial.
Ao apresentar Jesus como filho de Davi e filho de Abraão, no primeiro versículo do evangelho, MATEUS não quer apenas colocá-lo no centro de toda tradição do AT, o qual seus leitores tão bem conheciam. Ele deseja que seus leitores, desde as primeiras linhas, entendam que Jesus é Aquele que cumpre e completa o ATmas também é Aquele que introduz o Novo Testamento e/ou Aliança (9.16-17; 26.28-29; cf Jo 3.34; 1 Co 11.25; 2 Co 3.6; 5.17; Hb 9.15; 10.20; 12.24; Ap 21.5). 
Em Jesus Cristo o antigo e o novo se encontram 
Ele é o Alfa e Ômega - o centro convergente de todas as coisas, e
fora Dele não há esperança salvação nem para Israel e nem para a humanidade.
Mulheres na genealogia 
Mateus ao incluir o nome de mulheres na genealogia de Jesus rompe com toda a cultura israelita até então vigente, uma vez que a mulher não tinha direitos legais naqueles dias.
E se não bastasse incluí-las, entre tantas mulheres "virtuosas" da história genealógica de Jesus, Mateus inclui mulheres que possuem grandes restrições morais e/ou étnicas: 
Tamar, além de estrangeira (cananita) ela seduziu e teve filhos com o próprio sogro (Gn 38); 
Raabe era uma prostituta, que deu guarida aos espias, quando da conquista da cidade de Jericó (Js 2.1-21); 
Rute, era uma moabita, que segundo o livro de Deuteronômio 23.3 era enfático: "Nenhum moabita entrará na assembleia do Senhor";
Bete-Seba que era mulher de um hitita (Urias), adulterou com Davi o que resultou no assassinato do marido dela. 
Qual a razão de Mateus incluir estas mulheres? 
Uma resposta é que Mateus deseja mostrar que Deus está fazendo algo novo e totalmente diferente. Deus mais uma vez intervém diretamente na história humana quebrando paradigmas e invertendo a ordem natural das coisas.
Jesus vem para os "pecadores"; ele vem para ser o "salvador" de todas as pessoas sem qualquer distinção de sexo ou raças;
MATEUS realça desde as primeiras linhas de que a Salvação por meio de Jesus é unicamente por meio da Graça, sem qualquer méritomesmo genealógico, de seus leitores.
É isso que transforma o Evangelho em Boas Novas para toda a humanidade e Mateus quer deixar bem claro para seus leitores que o nascimento de Jesusidentifica-o plenamente com a nossa humanidade e incluía toda sorte de pessoas.

Por isso Jesus pode se identificar comigo e com você.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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