quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O MUNDO DO APOSTOLO PAULO: Estrutura Familiar


Nesta série de sintéticos textos estamos nos inteirando do contexto em que Paulo e seus companheiros exerciam suas atividades missionárias. Neste haveremos de verificarmos como era a estrutura familiar no mundo greco-romano do primeiro século.
O casamento era visto como uma relação de mutuo consentimento.[1] O historiador Everett Ferguson descreve o matrimônio assim: “O consentimento para viver juntos constitui um casamento em todas as sociedades, e a procriação de filhos era um objetivo explícito. Os matrimônios eram registrados para que os filhos fossem legítimos”. Ainda que oficialmente o casamento fosse monógamo, o adultério era frequente e até mesmo tolerado. O divórcio requeria apenas uma notificação oral ou escrita.
O homem tinha um papel dominante na família. Tinha uma autoridade absoluta sobre seus filhos (pátrio poder)[2] e escravos. As esposas permaneciam debaixo da autoridade de seus pais. Os homens ocupavam seu tempo entre negócios e atividades sociais como banquetes e nos ginásios que incluíam instalações para exercícios, piscinas e salas de conferências – funcionavam como centros comunitários.
Quando da ausência do esposo a esposa é quem assumia seus negócios. Administrar era a responsabilidade primária da esposa. Ferguson transcreve o que o escritor grego Apolodoro registrou: “Temos cortesãs para o prazer, criadas para a atenção cotidiana do corpo, esposas para ter filhos e para serem guardiãs confiáveis dos negócios da casa” (2003, p. 77).
Sem qualquer dúvida, as mulheres não estavam confinadas necessariamente ao lar. Algumas se ocupavam de cousas tão diversas como a música, a medicina e o comércio. Muitas ocupavam cargos políticos e algumas tinha posições de liderança nos cultos religiosos.
Os filhos não eram considerados como parte da família ainda que fossem reconhecidos pelo pai. Podiam ser vendidos ou expulsos se não eram desejados.
Os pais deveriam encontrar uma educação adequada para seus filhos por sua conta. As meninas podiam frequentar as escolas fundamentais, porém não era frequente. Em sua maior parte, aprendiam as habilidades relacionadas com a casa. Os meninos em sua maioria aprendiam um oficio em casa ou como aprendizes, podiam passar por uma educação básica e avançada, dependendo de sua posição social. A memorização mecânica era um elemento chave na educação primária. A retórica era o tema mais importante na educação avançada. O direito romano estabelecia uma idade mínima para o casamento - doze para meninas, de catorze para os meninos; a idade do primeiro casamento para as meninas romanas livres normalmente era entre doze e dezoito.
Os escravos eram parte do mobiliário da família no império romano. Podiam ser adquiridos através de vários meios, incluindo a guerra ou como parte do pagamento de suas dívidas. Os escravos podiam trabalhar nas minas, em templos, em casa como mestres (professores) e na indústria; alguns podiam chegar a ocupar posições elevadas como administradores na burocracia civil. Os escravos podiam ganhar dinheiro suficiente para comprar sua própria liberdade, se bem que tinham que seguir trabalhando para seus donos anteriores.
É dentro desta estrutura familiar que os apóstolos trouxeram as novas ideias acerca do valor do indivíduo e das relações conjugais e familiares. Os maridos deveriam ser fiéis às suas esposas e deviam amá-las como se fossem seus próprios corpos. Os filhos deviam ser considerados como mais importantes do que parte dos ativos da casa ou como mercadorias de barganha. Os donos de escravos deveriam tratá-los com justiça e equidade. Aqueles que hoje denominam o cristianismo como opressivo, provavelmente não tem ideia do quanto esta mensagem elevou o valor da vida humana dentro do mundo helenista.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
DUNN, James D. G. A Nova Perspectiva Sobre Paulo. São Paulo: ed. Academia Cristã/Paulus, 2011.
FERGUSON, Everett. Backgrounds of early christianity, third Edition. Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company Grand Rapids, 2003.
JEFFERS, James S. The Greco-roman world of the New Testament era: exploring the background of Early Christianity. Downers Grove, Illinois: IVP Academic, 1999.




[1] Sob o domínio romano, apenas certos casamentos tinham posição legal. Só quando ambos os parceiros eram cidadãos romanos poderia normalmente ser formado um casamento legal (matrimonium).
[2]  Pátrio poder (o poder do pai) sobre as pessoas que vivem com ele: ele poderia forçar o casamento (geralmente por dinheiro) e divórcio, vender seus filhos para a escravidão, reivindicar a propriedade dos seus dependentes como a sua própria, e ainda detinha o direito de punir ou matar membros da família (embora este último direito, aparentemente, deixaram de ser exercidas após o século 1 aC).

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