terça-feira, 6 de setembro de 2016

O MUNDO DO APOSTOLO PAULO: A Cultura


O grande diferencial da mensagem cristã do primeiro século estava na conexão entre a retórica e a pratica. Para poderem serem ouvidos em meio ao barulho ensurdecedor da sociedade greco-romana e atrair a atenção das pessoas era preciso um testemunho impactante e instigante.
Como os cristãos eram vistos pelos de fora? O escritor da epístola a Diagoneto, escrita provavelmente no início do segundo século se refere aos cristãos nestes termos:
“Se casam como todos; tem filhos, porém não matam seus descendentes. Tem uma mesa comum, porém não uma cama comum. Estão na carne, porém não vivem na carne. Passam seus dias na terra, porém são cidadãos do céu. Obedecem a lei em vigor e ao mesmo tempo vão muito além das exigências da lei em suas vidas. Amam a todos os homens e são perseguidos por todos”
Se suas vidas eram assim tão exemplares, por que eles atraiam tantos problemas? Duas razões principais era a falta de disposição em participar dos rituais religiosos e o fato de não se inclinarem diante das imagens dos imperadores (considerados deuses).
Como sabemos os cultos cívicos eram fundamentais na estrutura social daqueles dias. As pessoas criam que os deuses exigiam sacrifícios e outras cerimônias caso contrário acabariam por se irritarem e descarregarem sua ira sobre toda a população. A recusa dos cristãos em participarem das cerimônias era entendida como motivo de irritação aos deuses.
A outra questão era o culto ao imperador. Quando Roma conquistou o mundo ocidental, os governantes viram quanto a religião era importante para os povos conquistados. Ao invés de combatê-los, eles optaram por se aproveitar desta situação e começaram a colocar imagens dos imperadores romanos nos lugares de culto, juntos às imagens dos outros deuses. Isto nunca foi problema para os gregos. Aparte o fato de que os romanos eram os governantes de plantão, os gregos não eram exclusivistas em seus cultos, de maneira que adorar uma determinada deidade não o impedia de adorar a outras também.
Entretanto, para os cristãos Jesus era o único Senhor e não podia haver qualquer outro deus em Seu lugar e por esta razão não podiam inclinar-se diante de nada que se atribuísse autoridade divina, incluindo o imperador. Assim, como para os romanos o imperador representava o Estado, recusar-se a inclinar-se diante de sua imagem era se colocar em oposição ao próprio império.
Por causa destas atitudes, os cristãos eram chamados de ateus e inimigos do Estado. O comportamento radical deles deixava seus contemporâneos desconcertados. Por que não simulam apenas? Afinal, um deus a mais ou amenos não faria qualquer diferença! A grande maioria das pessoas nem sequer criam nos deuses a quem faziam sacrifícios. E, era evidente que não havia qualquer conexão entre a religião professada e a ética, as atividades religiosas deles não afetavam sua vida moral. Por tudo isto, ficava muito difícil às pessoas entenderem o comportamento radical dos cristãos. A razão pela qual Paulo e seus companheiros não podiam inclinar-se ante os imperadores e outras imagens era que a idolatria se constituía em pecado abominável no ensino da igreja primitiva.
O cristão daqueles primeiros dias tinha que decidir até onde poderia conformar-se com a sociedade e até onde comprometeriam sua fé. Havia uma diferença de opinião entre o que era apropriado e o que não era apropriado. Porém era claro que todo aquele que se identificava como cristão teria que se posicionar radicalmente sobre um ponto: Jesus Cristo é Senhor, e não há outro.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referência Bibliográfica

DUNN, James D. G. A Nova Perspectiva Sobre Paulo. São Paulo: ed. Academia Cristã/Paulus, 2011.

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