terça-feira, 20 de setembro de 2016

O HOMEM QUE QUERIA VER

Ele acordou naquela manhã com um forte sentimento de que aquele seria um dia diferente. Se lhe perguntassem o porquê ele não saberia responder, mas o seu coração lhe dizia que algo especial estava para acontecer em sua vida.
Desde quando nasceu Bartimeu foi impedido de ver. Todos os anos de sua vida foram passados numa profunda escuridão. Podia ouvir muito bem e suas mãos adquiriram ao longo dos anos uma capacidade extraordinária de sentir as coisas ou pessoas de maneira que aprendera a imaginar suas formas e aparências. Seu olfato era tão sensível que dificilmente alguém poderia se aproximar dele sem que fosse notado e as pessoas mais próximas eles os identificava mesmo em meio a um grupo maior de pessoas.
Mas apesar de tudo isto, ele não podia enxergar. Jamais pode olhar o rosto de sua amada mãe querida ou de seu pai Timeu; nunca pode ver os tons maravilhosos do nascer do sol ou seus tons pastéis ao se por no horizonte. Podia pegar, sentir e imaginar, mas jamais pode ver as cores delicadas de uma flor.
Ainda quando criança Bartimeu sonhava constantemente de que ao acordar abriria os olhos e pela primeira vez poderia ver. Muitas vezes acordava impulsionado pelo sonho, para apenas bater de frente com a dura realidade da escuridão total. Agora após os longos anos ele não sonha mais e nem acorda com qualquer esperança de mudança.
Daí a sua surpresa ainda maior pelo sentimento que permeou toda sua alma e que mesmo contrariando sua razão teima em permanecer em sua mente, de que algo novo vai acontecer.
Como todos os dias, prepara-se para sair e se posicionar à beira da estrada que via para Jericó, afim de receber de alguma pessoa generosa alguma moeda, que ao final do sai lhe possibilitaria comprar o necessário para sua sobrevivência.
Logo ao sair de casa percebe que há um movimento diferente, uma agitação maior das pessoas. Muitas vozes, homens e mulheres e até crianças, todas comentando e falando ao mesmo tempo. Mesmo em dias de festas ele percebera tanta agitação.
Na medida em que se aproxima da estrada principal nota sem qualquer esforço que a movimentação de pessoas é exageradamente maior do que qualquer outro dia. Certamente alguém muito importante vai passar pela estrada hoje. Será alguma autoridade romana, o rei Herodes ou Pôncio Pilatos o atual prefeito de Jerusalém, ou ainda, o Sumo Sacerdote Caifás ou algum grande Mestre da Torá. Mas por mais que use sua imaginação e procure em suas memórias, jamais ouvira e sentira tão grande agitação por parte de tantas pessoas.
Seus ouvidos sensíveis ficam ainda mais atentos para captar qualquer informação: é o Nazareno ouve uma mulher falando a uma outra; o Galileu diz um homem a alguns outros; ele está indo para Jerusalém alguém mais distante grita; sim ele tem feito muitos milagres afirma alguém num tom cheio de convicção; ele comeu na casa de um cobrador de impostos, que absurdo, comenta outro com voz de total desaprovação; nunca vi uma multidão tão grande afirma alguém passando pertinho de Bartimeu.
Ele precisa saber quem realmente é esta pessoa que tem causado tanto alvoroço. Tenta parar alguém, mas todos querem se posicionar melhor para ver tão importante personagem. Tateando consegue segurar no braço de um jovem, que no primeiro momento tenta se desvencilhar, mas diante de sua insistência em não soltá-lo dá-lhe atenção: informa que o nome da pessoa é Jesus, que ele realizou muitos milagres, que seus ensinos tem irritado muitos os fariseus e escribas e que ao passar por Jericó entrou na casa do maior coletor de impostos da cidade, o baixinho Zaqueu. Soltando o braço o rapaz afastou-se rapidamente balbuciando mais algumas informações que se perderam em meio ao tumulto crescente da multidão.
Rapidamente Bartimeu processa as informações recebidas e começa a fazer ligações com algumas outras que ouvira de pessoas que viajam por aquela estrada. Sim, agora se lembra de que certa vez alguém comentou de um jovem rabi que encantava as multidões ensinando com uma autoridade que jamais havia sido vista. Em outra ocasião uma senhora comentou que vinha da vila de Naim onde fora comprovar a notícia de que o único filho de uma viúva fora ressuscitado por um tal de Jesus. Ainda se lembrou de alguns homens que passando por ali discutiam em voz alta sobre este Jesus que tinha a ousadia de dizer que era o Filho de Davi que os profetas tanto anunciaram que viria para realizar a obra messiânica da salvação de Israel e de todas as nações.
O coração de Bartimeu disparou. Se Jesus de fato estava para passar ali ele não podia de forma alguma perde esta oportunidade. Ele precisava falar com Jesus de qualquer maneira.
O barulho da multidão torna-se ensurdecedor – são centenas de pessoas que se atropelam tentando se aproximar de Jesus e todos falando e gritando para chamar a atenção dele.
Bartimeu sabe que esta é sua grande oportunidade, sabe que esta é a sua hora. Percebe que Jesus está próximo e começa a gritar com toda força de seus pulmões: JESUS , FILHO DE DAVI, TÊM MISERICÓRDIA DE MIM!
Imediatamente as pessoas mais perto dele o mandam calar a boca. Mas Bartimeu não lhes dá a mínima atenção e cada vez mais alto continua a gritar: FILHO DE DAVI, TÊM MISERICÓRDIA DE MIM!
Quando seu clamor pareceu se perder em meio ao grande barulho da multidão, eis que de repente, um grande hiato se faz e alguém segura suas mãos e diz: Anima-te, pois Jesus quer falar com você!
Bartimeu não acredita no que está ouvindo, mas antes que sua mente processe a informação, seus pés e pernas já o está impulsionando para frete. Joga para longe a velha e corroída capa que sempre trazia consigo e sem saber como se coloca frente a frente com Jesus.
A multidão como que pressentindo que algo especial vai acontecer, cala-se completamente. Os ouvidos sensíveis de Bartimeu capta apenas respirações ofegantes e podia como que sentir os olhares da multidão depositas em Jesus e nele.
Então, a voz inconfundível de Jesus chega aos seus ouvidos: “Que queres que te faça?” Bartimeu como quem sonha responde e sem qualquer dúvida responde: “Senhor, que eu veja! ”  E antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, Jesus diz: “Vê, a tua fé te salvou” e ele imediatamente passou a ver. A multidão explode em frases de louvor e glória a Deus. Muitos daqueles que ali estavam o conheciam desde criança e conhecia sua triste história de cegueira.
Bartimeu extravasa toda sua alegria – pulando como criança e gritando frases desconexas de gratidão a Deus. E agora ele próprio faz parte da grande comitiva que continua a seguir a Jesus pela estrada rumo a Jerusalém.
Agora ele pode ver os rostos das pessoas e suas roupas coloridas; pode contemplar a beleza da vegetação à beira da estrada. Bendito seja o nome do Senhor Jesus!
Meu querido amigo(a), talvez como aquele cego Bartimeu você acordo com uma sensação de que algo maravilhoso vai acontecer HOJE em sua vida. E se alguém lhe perguntasse você também não saberia responder o que ou o porquê desta sensação.
Meu amigo(a) quem sabe você também não tem estado à beira da estrada da vida e HOJE não é o dia em que Jesus, o Filho de Davi, o Salvador vai estar passando por você.
Esta é a sua HORA, não deixe para outro dia, clame neste exato momento – JESUS, FILHO DE DAVI, TEM MISERICÓRDIA DE MIM!
Não se importe com aqueles que vão te mandar calar. Não se incomode com aqueles que vão ridicularizar esta sua decisão de fé. Não dê ouvidos para os que não podem lhe salvar a alma.
Clame com todo o seu coração: JESUS, FILHO DE DAVI, TEM MISERICÓRDIA DE MIM!
E Aquele, que jamais deixou de ouvir os Bartimeus da vida, haverá parar e abrir seus olhos espirituais, curar sua alma e dar-lhe a salvação eterna.
E como Bartimeu a tantos séculos atrás, você também haverá de seguir a Jesus, louvando-o e glorificando seu bendito nome.  

Referências: Mateus 9.27; Marcos 10.46-52; Lucas 18.35)


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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