quarta-feira, 31 de agosto de 2016

SALMO 23 - O Senhor é o meu Pastor e nada me faltara (verso 1)

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O SENHOR é o meu Pastor
e nada me faltara.
O SENHOR é o meu pastor,
Ele me dá tudo de que eu preciso!
O Senhor é o meu pastor;
de nada terei falta.
Todas essas traduções e outras mais são possíveis e podem expressar o sentindo original do compositor nessas primeiras palavras desse precioso e amado Salmo.

HÁ POUCOS TEXTOS NA BÍBLIA
MAIS AMADO E QUERIDO DO QUE O SALMO 23

Compositor: não é difícil concordar com um grande número de comentaristas bíblicos que optam por Davi[1] – a questão é: qual Davi?
O jovem Davi, pequeno e ruivo, entusiasta e cheio de disposição que venceu um leão, um urso e destemidamente, munido apenas de uma funda e algumas pedrinhas, enfrentou e venceu o gigante filisteu!
Ou seria o velho e experiente rei Davi, que através dos anos foi percebendo em cada batalha, em cada circunstância adversa, diante do ódio dos inimigos e da traição dos “amigos”, o cuidado continuo de Deus, em preserva-lo e supri-lo sempre!
Particularmente prefiro pensar que este Salmo de beleza e profundidade inigualável foi composto pelo velho Davi, que em determinado momento, olhando no retrovisor da sua vida, contempla o Seu Pastor ao lado dele em cada momento e suprindo cada uma de suas necessidades.
Alguém escreveu que Davi mantinha em seu Palácio um QUARTO onde colocou alguns objetos Pessoais e de quando em quando ELE entrava e ali olhando para esses objetos RELEMBRAVA O QUANTO DEUS TINHA SIDO BOM PARA COM ELE.
Entre tantos objetos Ele guardou com CARINHO ESPECIAL – o Cajado e a Vara – com o qual havia pastoreado o rebanho de seu pai.
Gosto de pensar que foi em um destes MOMENTOS DE REFLEXÃO que o Velho Davi COMPÕE o Salmo 23.
PORTANTO, o Salmo 23 é a COMPOSIÇÃO de um Crente que por MUITOS ANOS viveu intensamente com Deus.
Um Crente que SENTIU diariamente o CUIDADO de Deus.
Um crente que apesar de seus Pecados e das suas limitações e fragilidades jamais foi ABANDONADO ou ESQUECIDO por Seu Deus!
Talvez seja essa a RAZÃO pela qual nos sentimos atraídos por este Salmo.
 Essas palavras de Davi fazem todo o Sentindo para TODOS os CRENTES em TODAS as épocas.
A Leitura acompanhada da Meditação nesse SALMO 23 é saúde para o nosso espírito/alma – nossa Mente – nosso Corpo!
Quando entendemos que o nosso Deus CUIDA de nós em:
Todo o Tempo / Toda Circunstância
Ainda e apesar de nossos Pecados / das nossas Limitações
ELE NUNCA NOS ABANDONA OU ESQUECE
Por esta razão podemos nos sentir plenamente seguros e supridos
E então podemos descansar verdadeiramente!
Tendo um Deus assim, então podemos completar o verso como Davi:
Nada me faltará ou de nada terei falta,
Pois Ele me supre de tudo de que eu preciso!

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante
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[1] Nos textos originais não havia indicação, como em nossas versões, do autor das composições que compõe o conjunto de 150 salmos da bíblia hebraica-cristã. As autorias mencionadas em nossas versões são resultado de pesquisas e inferências históricas.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

OS PROFETAS - Desenvolvimento Histórico de Suas Atividades

É necessário, ainda que seja uma tarefa complexa tentar desenvolver este tema num espaço tão sucinto, procurar obter uma visão do desenvolvimento do exercício profético no transcorrer da história do povo de Israel.
Atividade Profética no Antigo Israel: Encontraremos a presença dos dois tipos básicos de profetas: o nabhi’ e o ro’eh e ambos bem afeitos a época e ao momento cultural do povo. O primeiro está mais ligado à uma vida agrícola, e o segundo, caracterizado pela figura do vidente, associa-se mais com a uma vida nômade. O certo é que Israel perde bem cedo essa figura do vidente assim como os conceitos da vida nômade. Os nevi’im assumem então um papel importante na vida do antigo Israel desenvolvendo assim seu ministério profético debaixo dos limites da fé javista.
O movimento profético, como escola, tem um momento histórico preciso para o seu início: Samuel[1] É apontado o décimo século antes de Cristo como a época do início do movimento, cuja característica era ser espontâneo e leigo, sem conexão com a instituição sacerdotal. Ao contrário dos profetas das outras religiões, os profetas hebreus eram anunciadores da moralização e espiritualidade requeridas por Deus, e isso não tem paralelos nos outros profetas. Em lugar de feiticeiros e adivinhadores, Deus levanta profetas que busquem o bem espiritual do povo, para que o mesmo cumpra os propósitos de Deus.

O Profetismo e o Estabelecimento da Monarquia: É certo que no período dos juízes percebemos uma certa instabilidade na teocracia e no período de Samuel encontramos um momento de transição entre a teocracia e a monarquia. Pergunta-se qual é a relação do profetismo com a Monarquia? A resposta poderia ser dada considerando-se vários ângulos, mas o que podemos fazer aqui é tão somente levantarmos alguns aspectos. Samuel é testemunha ocular e agente influente nesta transição. Ele representa a tradição anfictiônica e nos parece à luz dos argumentos de Brigth (1980,  p. 241-242) que Samuel resistiu e muito a ideia da monarquia, pois
“manteve-se viva a vontade de resistir e de perpetuar a tradição carismática, graças, sobretudo aos profetas que surgiram nesse tempo (...) tais profetas, certamente, por meio de sua fúria extática, procuraram incitar todos a um zelo santo para combater a Guerra Santa contra o odioso invasor (Filisteus).”
A escolha do primeiro rei de Israel deu-se por dois mecanismos: a aclamação popular e a designação profética (1Sm 10.1; 11.14). A importância dos profetas não é vista somente na consagração dos reis, mas também na manutenção do princípio da teocracia. Depois de Samuel, temos alguns profetas mencionados tais como: Natã, Gade, Abiú, Micaías, Aías, Semaías, Jeú, Elias e Eliseu. Esses primeiros profetas são caracterizados como “conselheiros dos reis” como explica LaSor:
“Em geral, os profetas dos séculos X e IX eram ‘conselheiros dos reis’. Talvez tivessem mensagens proféticas para o povo, mas a maior parte das evidências indica que aconselhavam os reis, ajudando-os a discernir a vontade de Deus, incentivando-os a andar no caminho de Javé ou, com maior frequência, censurando-os por falharem neste aspecto” (1999, p. 244).
No período do Reino dividido, profetas surgiram e advertiram o povo de um modo geral. Durante a apostasia que tomou conta da nação israelita vemos a veemência com que Elias[2] e Eliseu[3] proclamam mensagens de Deus contra a impiedade dos líderes e os pecados por eles cometidos. Na época do Reino do Norte, o movimento era bastante extenso, a ponto de haver grupos de cinquenta profetas num só lugar, como Betel, de acordo com Brigth:
Encontramos grupos deles vivendo uma vida comunitária (2 Rs. 2:3-5; 4:38-44), sustentados pelos donativos dos devotos ( cf. 4:42), frequentemente possuindo um chefe no comando ( c. 6:1-7). Eram reconhecidos por seu expresso pelo, que representava o seu culto (2 Rs.1:8; cf. Zc.13:4) e aparentemente também por uma cicatriz característica (1 Rs.20:41). (...) Entretanto, eram patriotas entusiastas, seguiam os exércitos de Israel nos campos de batalha (2 Rs.3:11-19), encorajavam o rei a lutar nas guerras da nação (1 Rs.20:13) e desejavam que elas fossem travadas de acordo com as regras da Guerra Santa [vv. 35 a 43]” (1980, p.331).
O Reino do Norte, Israel, teve o fim trágico anunciado pelos profetas exatamente porque não dera ouvido aos seus oráculos. Judá, o Reino do Sul, também não escapa da infidelidade e caí nas mãos dos seus inimigos e é levado ao exílio.

O Profetismo no Século VIII: Historicamente o período, inaugurado com Oséias e Amós, é frequentemente chamado de “período clássico” da profecia e eles também iniciaram a prática de “registrar” suas mensagens proféticas.  Entretanto, tal designação é muito mais para efeito didático do que um fato exato, visto que, não há uma radical ruptura entre os profetas antes do início do "período clássico” e aqueles que surgiram depois, como a classificação pode deixar transparecer:
“Embora não deva ser questionada a originalidade de sua contribuição, eles não eram, contudo, inovadores, mas homens que, estando bem inseridos na tradição de Israel, adaptavam esta tradição a uma nova situação. (...) Eles transmitiam publicamente tais mensagens: e, sem dúvida, enquanto eles eram lembrados, elas eram transmitidas e coligidas através de um complexo processo de transmissão oral e escrita, que deu origem aos livros proféticos como os conhecemos” (BRIGTH, 1980, p.353).


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Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
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Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia, v. 1. São Paulo: Hagnos, 2006.
CRABTREE, A. R. O livro de Amós. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1960.
HOFF, Paul. Os livros históricos. São Paulo: Ed. Vida, 2003.
LASOR, William S., HUBBARD, David A. e BUSH, Frederic W. Introdução ao antigo testamento. Tradução: Lucy Yamakamí. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
MILLARD, Alan. Descobertas dos tempos bíblicos. São Paulo: Ed. Vida, 1999. REED, Oscar F. O livro de Oséias. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. [Comentário Bíblico Beacon, v. 5].
ROBINSON, Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.
SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
TENNEY, Merrill C. (Org.) Enciclopédia da bíblia – cultura cristã, v. 1. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2008.



[1] Apesar do destaque histórico de Samuel o exercício profético foi praticado por algumas pessoas anteriores a ele, como destaca LaSor (1999, p. 241): “As implicações são bem significativas, pois os estudos da profecia não podem começar com os escritos proféticos do Antigo Testamento ou mesmo com os dizeres proféticos de Samuel, Natã, Elias e Eliseu. Com certeza é preciso incluir o ministério profético de Moisés e, provavelmente, os elementos proféticos nos patriarcas. Parece que Oséias destaca os ministérios de Moisés e de Samuel nessa descrição da função histórica dos profetas (cf. Os. 12:13).”
[2] “Elias era o exemplo típico da tradição mosaica primitiva, ainda viva em Israel. Não sabemos o que ele pensava da monarquia ou dos cultos oficiais de Jerusalém e Betel. Mas ele considerava Acabe e Jezabel como verdadeiros anátemas. Seu deus era o Deus do Sinai, que não admitia nenhum rival e não tiraria vingança sangrenta por crimes cometidos contra a lei da Aliança, como os de Acabe” (BRIGTH, 1980, p.328).
[3] “Como tinha acontecido a Samuel muito antes, Eliseu trabalhou em estreita cooperação com aquelas ordens proféticas que continuavam a resistir à política do Estado. O próprio Eliseu era chamado ‘os carros de Israel e seus cavaleiros’ (2 Rs.13:14): pode-se dizer que o homem valia por divisões inteiras! ” (BRIGTH, 1980, p.330-331).

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

PROFETA OSEIAS: Características pessoais

            Uma característica dos personagens bíblicos de forma geral é que que eles não são super-heróis perfeitos, mas homens e mulheres de carne e sangue, sempre sujeitos a toda sorte de qualquer ser humano vivendo neste mundo tenebroso. O grande diferencial é que muitos deles foram instrumentos preciosos nas mãos de Deus para realizarem sua vontade e seus propósitos eternos.
            Os profetas são plenamente humanos, que expressam sentimento, os intensos de alegria, tristeza, se frustram, tem lutas morais, como quaisquer outras pessoas de sua época. Seu diferencial é que estavam sintonizados com a vontade de Deus e a proclamaram com toda fidelidade e determinação, sem se acovardarem por qualquer que fosse as circunstâncias desfavoráveis – o escritor da epístola aos Hebreus, no Novo Testamento, declara que muitos deles foram mortos das mais diversas formas, mas nunca retrocederam. Como fazem falta nos dias atuais homens e mulheres que sejam revestidos desta fé e determinação!
            Em todos os casos a vida do profeta de interagia com sua própria mensagem. Eles sabiam interpretar suas próprias experiências pessoais à luz da providência e as utilizavam como poucos para o exercício de seus ministérios proféticos. É desta forma que podemos compreender a personalidade, a vida familiar-conjugal e o ministério do profeta Oséias.
            Como seus colegas de ministério Oséias se constitui em um modelo de como Deus utiliza-se das capacidades naturais, pessoais, dos sentimentos mais profundos e das experiências mais traumáticas, para comunicarem de forma mais autentica possível suas mensagens, na maioria das vezes mal recebidas e interpretadas, aos seus ouvintes contemporâneos.
            Oséias tem características das mais nobres: gentil, compassivo, sensível, reflexivo, nobre, amável – profundamente crente. Ele certamente se assemelha em muito ao profeta sulista Jeremias – possuidor de iguais características e que foi privado por Deus de constituir uma família como ilustração da nação judaica que rejeitou o seu Deus, assim como a esposa do profeta Oséias que se prostituiu, como os israelitas o fizeram em relação ao seu Deus. Assim como Jeremias chorava por causa das injustiças e tristezas que sofria por causa de sua mensagem, Oséias sofre silenciosamente seus desalentos familiares, expressando de forma poética seus soluços profundos de uma alma entristecida ao extremo. A maior parte de seus quarenta anos de ministério Jeremias sofre perseguição e aprisionamento dos mais cruéis nas mãos de autoridades que repudiavam sua mensagem; por outro lado, Oséias sofre profundamente por causa do indiferentismo de seus contemporâneos, que rejeitam sua pregação. Ambos os profetas são teólogos e poetas, sendo que Jeremias se destaca nos aspectos teológicos, enquanto Oséias destaca-se pelas suas composições poéticas. Mas ambos impregnaram e influenciaram o pensamento e a teologia dos profetas subsequentes.

A Chamada para o Ministério Profético
            Pouco sabemos a respeito de onde, como e quando o profeta foi vocacionado por Deus, mas é impossível não se aperceber da convicção vocacional deste homem. Ele se constitui em um testemunho permanente do amor de Deus e seu discernimento quando da interpretação da história de Israel é algo impressionante e se constituiu em bússola para nortear os demais profetas que lhe sucederam, o colocando como proeminente dentre os mensageiros da vontade revelada de Deus e preservadas nas Escrituras. Seu chamado antecede seu tumultuado casamento (1.2). Seu amor incondicional para com uma esposa infiel haverá de produzir um turbilhão de fortes e profundas emoções em sua vida, preparando-o como nenhum outro para interpretar e proclamar o amor de Deus para com uma nação ingrata e infiel. Somente vivenciando uma tragédia familiar sem precedentes poderia ter preparado o profeta verdadeiramente compreender e anunciar a mensagem do amor incondicional de Deus para com seu povo.

A Aliança
            A base de todas as mensagens dos profetas sempre foi a Aliança que Deus havia estabelecido com seu povo. Os profetas apenas trazem à memória de seus ouvintes aquilo que eles já sabiam, mas teimavam em não fazer – a vontade de Deus. Oséias resgata aquele momento em que Deus casa-se com seu povo, mas Israel persistentemente rompe essa aliança amorosa (Os. 6.7; 8.1).  No mesmo contexto familiar o profeta declara que Deus os adotará como filhos e filhas, mas eles rebeldemente são desobedientes (Os. 11.1; cf. Êx.4.22). Por diversas vezes Deus havia os disciplinados amorosamente (11.3), mas eles nada aprenderam e continuaram agindo desobedientemente.

Silêncio quanto às demais Nações
            Enquanto seu antecessor, Amós, nomeia as mais diversas nações como modelo do juízo de Deus, para exemplo do que haveria de ocorrer à Israel, Oséias silencia quanto a quaisquer outras nações. Sua preocupação é exclusivamente com a nação de Israel. Seu intenso amor pelos seus contemporâneos leva-o a concentrar toda sua atenção sobre a nação rebelde/adultera de Israel, na esperança de que ela reconhecesse seus pecados e retornasse aos braços de seu Amado – o que infelizmente não haverá de acontecer.

A Profundidade da Mensagem de Oséias
            Se outros profetas são mais abrangentes em suas respectivas mensagens, a mensagem mais restrita de Oséias ganha em profundidade. É impossível não percebermos que Oséias não se preocupa apenas com as ações, mas vai atrás dos motivos e fontes destas ações.
            Poucos profetas sondaram com mais profundidade o Amor de Deus do que Oséias (3.1; 11.1-4; 14.4), somente comparado ao evangelista João em sua composição evangélica. Isso não significa que Oséias é complacente com os pecados de seus contemporâneos, ele compreende e claramente ensina que esse comportamento pecaminoso será a ruina e destruição da nação, todavia, coloca na boca da nação confissões e orações (5.15; 6.1; 14.1) que indicam a possível mudança radical que se fazia necessária para evitar o juízo divino eminente. Ainda que como seu colega antecessor ele almeje um futuro em que a nação seja restaurada e retorne ao ciclo de prosperidade e paz, ela aspira ainda mais, antevê um momento em que Deus e seu povo haverão de experimentar uma perfeita comunhão de amor, onde a vontade de Deus será exclusivamente vivenciada na vida de seu povo – aspirações genuinamente celestiais.
            Essas aspirações de Oséias o faz antever também o reino davídico divino: “tornarão e buscarão a Yahweh, seu Deus, e a Davi seu rei” (3.5). Essas palavras proféticas de Oséias se constituem na primeira alusão ao governo ideal do Messias, desenvolvida posteriormente por Miqueias e Isaías. Esse Davi não se refere apenas a um descendente humano da linhagem davídica, mas um segundo Davi – aquele que haverá de ser “segundo o coração de Deus”, e que, definitivamente ocupará a posição de genuíno representante de Yahweh.

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Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia, v. 1. São Paulo: Hagnos, 2006.
CRABTREE, A. R. O livro de Amós. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1960.
HOFF, Paul. Os livros históricos. São Paulo: Ed. Vida, 2003.
LASOR, William S., HUBBARD, David A. e BUSH, Frederic W. Introdução ao antigo testamento. Tradução: Lucy Yamakamí. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
MILLARD, Alan. Descobertas dos tempos bíblicos. São Paulo: Ed. Vida, 1999. REED, Oscar F. O livro de Oséias. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. [Comentário Bíblico Beacon, v. 5].
ROBINSON, Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.
SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
TENNEY, Merrill C. (Org.) Enciclopédia da bíblia – cultura cristã, v. 1. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2008.


terça-feira, 23 de agosto de 2016

PROFETA OSEIAS: A Religião de Baal e os Israelitas

O deus canaanita Baal
            A questão da influência e envolvimento dos israelitas com as práticas religiosas da religião baalita tem duas fases distintas.  A primeira é quando eles conquistam Canaã e passam a morar lado a lado com diversos povos que já professam sua fé em Baal (lfb - dono, amo, senhor ou marido – plural: Baalim),[1] o deus mais adorado entre os fenícios-cananeus, responsável segundo eles pelas tempestades, chuva, névoa, o orvalho, que fecunda a terra e, portanto, responsável direto pela abundância das colheitas e manutenção da vida. Desta forma, Yahweh continuava sendo o deus salvador/libertador do povo israelita, mas quem supria suas necessidades materiais (colheita, pão, vinho, água e o linho) era Baal.
            Há aproximadamente 89 referências ao deus Baal no Antigo Testamento, além disso, se faz referência a outras divindades dos cananeus, incluindo a deusa da fertilidade Aserá (40 vezes), sendo representada nos postes de madeiras entalhadas representando uma figura feminina, sendo também descrita como “Rainha dos Céus” (tanto as colunas sagradas como os postes sagrados eram símbolos sexuais); outra figura feminina mencionada nos textos bíblicos é a deusa Astarte/Asterote (no grego, em hebraico, transliterado, temos Ashtoreth em ugarítico ‘Attart e em acádico As-tar-tu - 10 vezes), também vinculada à fertilidade, sexualidade e guerra, sendo muito popular nos cultos cananeus, sendo também adorada pelos assírios/babilônicos com o nome de Ishtar. No total, parece haver cerca de 139 referências claras às principais divindades cananeias nos escritos veterotestamentário.  
Logo após a morte de Josué, nos dias dos juízes, vai se tornando uma pratica comum compartilharem o culto à Yahweh com o culto prestado à Baal. Desta nova geração, o escritor de juízes escreveu:
Os israelitas fizeram o que era mau aos olhos do Senhor e adoraram Baal; e abandonaram o Senhor, o Deus de seus pais, que os tirou da terra do Egito; eles seguiram outros deuses, dentre os deuses dos povos que estavam ao redor deles, e inclinou-se para eles; e provocaram o SENHOR à ira. Eles abandonaram o Senhor, e adoraram Baal e os Astartes. (Juízes 2. 10-13).
Esta permanente relação dos israelitas com as divindades canaanitas e mais especificamente os cultos à Baal podem ser constatados nas referências textuais dos múltiplos lugares que são vinculados a esse deus canaanita:
baalberith ( "aliança Baal) era adorado em Siquém depois da morte de Gideão ( Juízes 8.33; 9. 4); Baal-Gade [Dono de Gade (Boa Sorte)] pode se referir a uma cidade ao sopé do monte Hermom, no vale do Líbano (cf. Jos 11.17; 12. 7; 13. 5); Baal-Hamon ("senhor da abundância ou riqueza ") é mencionado em conexão com uma vinha frutífera pertencente a Salomão (Cântico dos Cânticos 8:11 ); 4) Baal-Hermom (" Baal-Hermon ") pode ser outro nome para Baal-Gade, talvez localizado no norte de Israel perto do monte Hermon; Baal-Peor ( "Baal-Peor") era o deus das montanhas de Moabe (Monte Peor) que tomaram seu nome e os israelitas se envolveram com esse culto moabita e por causa disso 24.000 israelitas foram mortos por Deus ( Números 25. 1-9; Dt 4. 3); Baal-Zebube (“Senhor das moscas” ou como alguns explicam, um deus considerado como provendo oráculos pelo voo ou pelo zumbido duma mosca. — 2Rs 1.2); Acazias, rei de Israel, enviou mensageiros para indagar de Baal-Zebube se ele se restabeleceria de seu grave ferimento. Yahweh, por meio do seu profeta Elias, censurou Acazias, dizendo: “É porque não há nenhum Deus em Israel que mandas consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Portanto, no que se refere ao leito ao qual subiste, não descerás dele, porque positivamente morrerás. ” — 2Rs 1.2-8.
As famílias ofereciam seus cultos à Baal em nome de Yahweh em uma espécie de sincretismo religioso. Para qualquer outro povo isso seria perfeitamente normal, todavia, quando se trata de Yahweh, que exige exclusividade de seu povo, torna-se um grave problema a ser resolvido.
            Nos dias de Davi essa anomalia religiosa não só continuou como foi sendo cada vez mais assimilada pelo povo em geral como elementos da religião de Israel. Crabtree (1960, p. 21) concluiu sobre essa simbiose religiosa:
Não houve distinção entre os cananeus subjugados e absorvidos pelo reino de Davi e os próprios israelitas. Assim não é possível determinar as superstições e as práticas religiosas que o povo de Israel recebeu dos cananeus misturados com os israelitas. Mas o profeta Oséias nos declara que os israelitas não sabiam que os frutos que ofereciam a Baal eram recebidos do Senhor Deus de Israel.
            No reinado de Salomão, com sua política esquizofrênica de estabelecer relações diplomáticas com todo tipo de nações, através de alianças conjugais, escancarou a nação israelita à toda sorte de religiões. Cada “esposa” trazia consigo suas práticas religiosas e seus respectivos deuses, transformando uma nação “monoteísta” em um panteão de deuses.
            Como se diz popularmente, quando se pensa que não pode ficar pior, sempre piora, torna-se uma realidade em Israel. Com a divisão do reino os nortistas assumiram o nome Israel, enquanto os sulistas assumiram o nome Judá.
            Quando do reinado de Onri ele resolver estabelecer uma aliança com os fenícios, para consolidar sua posição e fortalecer seus laços comerciais. Para isso ele recorre à velha prática de aliança conjugal, casando seu filho Acabe com a princesa fenícia Jezabel filha de Etbaal, um rei profundamente envolvido com o culto à Baal. Jezabel unificava os hábitos imorais e crueldade oriental com a força agressiva dos fenícios (povo de Tiro) bem como a belicosidade religiosa selvagem do seu pai. Ao se mudar para Israel a princesa traz consigo o culto à Baal e seus sacerdotes, introduzindo nas entranhas da nação este culto idolatra que produzira consequências funestas e será combatido sistematicamente por Elias, Eliseu e todos os demais profetas do Reino do Norte. Essa princesa fenícia tornou-se uma figura funesta na história israelita. Manipulou desde o princípio seu marido Acabe (IRs 21.25); seus atos de perversidade tornaram-se proverbial em Israel (2Rs 9.22) e seu nome se constituiu em sinônimo de uma religião rejeitada por Deus (Ap. 2.20). A situação ficou tão caótica nos dias  Acabe/Jezabel que o culto à Yahweh quase foi suprimido totalmente no Reino do Norte, restando em todo o reino apenas sete mil que não se prostraram à Baal. Foi neste momento que o profeta hebreu Elias lança seu famoso desafio aos profetas de Baal no Monte Carmelo em I Reis 18, quando ele desafiou os falsos profetas para fazer descer fogo do céu. Quando os profetas de Baal não conseguiu fazer isso, o Deus de Elias fez, resultando na matança dos profetas de Baal por uma multidão enfurecida. Mas a adoração deste deus não será tão facilmente extinta.
            Apesar de todo o esforço do profeta Elias, o baalismo continuava encrustado na mente e coração dos israelitas. Tanto Oséias quanto seu antecessor Amós fazem a mesma leitura sobre a religião praticada pelos israelitas nos dias de Jeroboão II, que encantados com a prosperidade material foram sendo cada vez mais atraídos pela religião sensualista do baalismo em detrimento de seu afastamento paulatino do culto de Yahweh.
            O profeta Oséias natural do Reino do Norte, mais do que seu colega que era do sul, testemunha dia-a-dia a perda do entendimento da santidade, da justiça e do amor à Deus por parte da sociedade israelita. Estavam tão seduzidos pelos trios elétricos baalitas que se tornaram insensíveis aos seus próprios pecados e à sua própria apostasia. Iludidos pelos seus sacerdotes (4.1-9; 5.1-9), atribuíam à Baal os mesmos conceitos de Yahweh, imaginando que os sacrifícios, cultos cerimoniais e festas regadas à toda sorte de orgias, seriam aceitas por Yahweh (a expressão bem brasileira “me engana que eu gosto” cabe bem aqui).
            Nos dias de Oséias os princípios da Aliança haviam sido lançados no limbo do esquecimento. O conhecimento sobre o caráter de Deus tinha se perdido; o povo iludido pelos sacerdotes achava que podiam comprar o favor de Deus com ofertas e cultos de bajulação. Paralelamente ao culto à Yahweh, eles mantinham seus altares aos Baalins espalhados por todo o Reino do Norte no reinado de Jeroboão II (4.13; 10.1-2; 8.11); traziam ofertas para obter a fertilidade dos campos e o aumento dos rebanhos (2.13; 11.2); achando que estavam prestando um serviço aceitável ao Senhor (5.6; 8.2), entretanto, apenas multiplicavam seus pecados (8.11).

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PROFETA OSEIAS: Contexto Histórico
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O PERÍODO CLÁSSICO PROFETISMO NO AT - Século VIII
O DESENVOLVIMENTO DO PROFETISMO EM ISRAEL
PROFETAS: As Diversidades Contextuais
OS PROFETAS E AS QUESTÕES SOCIAIS

Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia, v. 1. São Paulo: Hagnos, 2006.
CRABTREE, A. R. O livro de Amós. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1960.
HOFF, Paul. Os livros históricos. São Paulo: Ed. Vida, 2003.
LASOR, William S., HUBBARD, David A. e BUSH, Frederic W. Introdução ao antigo testamento. Tradução: Lucy Yamakamí. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
MILLARD, Alan. Descobertas dos tempos bíblicos. São Paulo: Ed. Vida, 1999. REED, Oscar F. O livro de Oséias. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. [Comentário Bíblico Beacon, v. 5].
ROBINSON, Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.
SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
TENNEY, Merrill C. (Org.) Enciclopédia da bíblia – cultura cristã, v. 1. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2008.



[1] A principal fonte de informação a respeito do deus são as tábuas descobertas em Ras Shamra, localidade do norte da Síria situada onde existiu o antigo reino de Ugarit, que se desenvolveu em meados do segundo milênio antes da era cristã. A descoberta dos arquivos ugaríticos teve grande importância para o estudo bíblico, pois estes arquivos forneceram pela primeira vez uma descrição detalhada das crenças religiosas canaanitas durante o período diretamente anterior à colonização israelita. Estes textos mostram paralelos significativos com a literatura hebraica bíblica, particularmente nas áreas do imaginário divino e da forma poética. A poesia ugarítica tem diversos elementos encontrados posteriormente na poesia hebraica: paralelismos, métricas e ritmos. As descobertas de Ugarit levaram a uma nova apreciação do Velho Testamento como literatura. Nesse endereço eletrônico você encontrara uma tradução completa do “Épico de Baal” http://documentofantastico.blogspot.com.br/2011/05/textos-ugariticos.html

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

PROFETA OSEIAS: Contexto Histórico

            Os profetas bíblicos não anunciaram suas mensagens ao vento. Todos os profetas estão inseridos no tempo/espaço da história de seu povo, de maneira que as condições políticas-sociais-econômicas e religiosas estão impregnadas nas mensagens por eles proclamadas tanto em Israel (Reino do Norte) quanto em Judá (Reino do Sul). Assim, se faz necessário resgatarmos o quanto for possível qual o contexto histórico em que cada profeta proferiu sua mensagem, pois ele se dirige a um povo especifico em um momento especifico. Inteirados desse momento a mensagem do profeta torna-se mais tangível e seus princípios podem então serem aplicados nos dias atuais.
            O livro de Oséias abre com uma indicação político-hitórico “nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel”. Deste modo, podemos delimitar o período em que o profeta exerceu seu ministério.
            Foram nos dias de Jeroboão II de Israel e de Uzias de Judá, que ambos os reinos alcançaram seu apogeu político-econômico. Desde Salomão os domínios territoriais haviam sido tão expandidos como nesse período áureo. Os nortistas superaram a crise política que transtornou os dias pós queda da casa de Acabe e a fundação da dinastia de Jeú. Neste tempo a Síria de Hazael e Benadá empreenderam uma sangrenta guerra contra os dois reinos de Judá e Israel, mas não conseguiram seus intentos e acabaram perdendo seu território para o Reino de Israel.
            Neste momento surge a figura carismática de Jeroboão (II Reis 1.32ss; 14.26ss). Aproveitando suas vitórias iniciais, Jeroboão empreende uma campanha agressiva assumindo o controle dos territórios ao leste do Jordão, de Hamate, no vale do Orontes, estendendo-se até o Mar Morto, perfazendo os limites das conquistas de Davi. Ousadamente conquista a cidade de Damasco (II Reis 14.25-28).
            Contribuiu muito para o sucesso dos dois reinos o afastamento da região dos assírios, por um longo período de cem anos, logo após a batalha de Carcar em 854 a.C., contra um grupo de pequenas nações do oeste.
            Ninguém aproveitou mais esse momento do que Jeroboão. Com as novas conquistas territórios ele assume o controle das sempre cobiçadas estradas comerciais entre a Assíria e o Egito, tornando a nação de Israel extremamente prospera e poderosa.
            Aparentemente tudo está muito bem em Israel, todavia, na mesma proporção em que os israelitas prosperam economicamente, se afastavam de Deus. O profeta Amós, contemporâneo de Oséias, nomeia explicitamente o caos espiritual dos israelitas neste tempo: multiplica-se a corrupção, a injustiça, a opressão, a imoralidade, a cobiça, o roubo, o luxo, a vaidade, a violência, a falsidade, a infidelidade, a desonra e a idolatria [qualquer semelhança com as condições atuais do Brasil não é mera coincidência]. Diante desse quadro de decadência religiosa/moral, paulatinamente inicia-se o declínio político, ainda nos anos finais de Jeroboão, mas que rapidamente se deteriora nos dias de Oséias, sucessor do oficio profético de Amós. O governo violento de Zacarias inaugura um período anárquico-político, que levara o Reino do Norte não apenas a uma derrota, mas à definitiva destruição pela invasão dos exércitos da Assíria.
            Quatro dos seis reis de Israel, após a morte de Jeroboão, foram assassinados por seus sucessores. As intrigas políticas entre os partidos que tentavam controlar o poder real envolviam e perturbavam o país inteiro. Um partido desejava favorecer uma aliança política com o Egito, o outro partido defendia uma aliança com a própria Assíria (9.6; 10.6). Entretanto, tanto Amós antes, como Oséias depois, anteviam [interpretavam, discerniam], uma característica profética, e denunciaram explicitamente a insensatez e a tolice destas intrigas, que por fim acabaram por arrastar o Reino de Israel à total ruina.
            Esse final trágico dos israelitas está totalmente vinculado à decadência religiosa e seu afastamento dos princípios da Aliança com Yavé. Desde os dias anteriores  de Acabe e Jezabel eles já sabiam dos perigos de se fazer alianças com outras nações e consequentemente seus deuses. Mas nos dias de Oséias a situação era ainda mais deplorável, pois suas lideranças políticas, bem como o povo de forma geral, haviam perdido totalmente o interesse pela religião Javista e pouco se interessavam pelas pregações dos profetas que lhe eram enviados. O apelo dos profetas Amós e Oséias para que os israelitas permanecessem neutros diante das intrigas internacionais dos dois impérios Assírio e Egito, tinham duas vertentes:
Primeiro, aliando-se tanto a um quanto ao outro, implicava em associação e consequente submissão aos deuses destes povos;
Em segundo plano, os profetas discerniam com muita clareza as reais ambições destes impérios, domínio simples e puro de territórios estratégicos, mediante suas insaciáveis de poder expansionista.
            A proposta dos profetas era que Israel permanecesse neutro neste tabuleiro belicoso das duas potências. Se eles se arrependem-se e voltassem para os termos da Aliança com Deus, haveriam de serem salvos da destruição eminente. Mas os ouvidos mocos dos líderes, preocupados apenas com seus próprios interesses, bem como de uma população iludida por uma falsa segurança econômica, ignoraram as mensagens proféticas e preferiram, é sempre uma questão de escolha, confiar nas alianças políticas (5.13; 7.11; 8.9). O profeta Oséias rouco de tanto proclamar sua mensagem lança um ultimato final: se Efraim (Israel) persistisse nessa política demente, colocando-se na dependência do auxílio estrangeiro, rejeitando confiar em Deus, eles seriam devorados (7.9; 8.8). Tudo em vão, pois, os registros históricos deixam claro que a nação persistiu em seu caminho autodestrutivo.
            Fica muito evidente que a crise israelita tem fundamento religioso. A rivalidade política entre os dois partidos, pró Egito ou Assíria, alimentado pelas ambições e o egoísmo de seus governantes, que não tinham pudor de colocarem seus interesses pessoais em ambições políticas acima de qualquer outra coisa, somado à total indiferença para com os valores e princípios estabelecidos na Aliança de Iavé, demarcam o fim trágico e melancólico do Reino de Israel.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.
FALCÃO, Silas Alves. Panorama do Velho Testamento – os livros proféticos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1965.
FEINBERG, Charles L. Os profetas menores. Tradução: Luiz A. Caruso. Florida: Editora Vida, 1998.
FRANCISCO, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP), 1969.
LASOR, W. Sanford, DAVI A. Hubbard e FREDERIC W. Bush. Panorama del Antiguo Testamento - Mensaje, forma y transfondo del Antiguo Testamento. Buenos Aires: Ed. Nueva Creacion, 1995.
REED, Oscar F. O livro de Oséias. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. [Comentário Bíblico Beacon, v. 5].
ROBINSON, Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.
SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.