terça-feira, 5 de julho de 2016

CARTAS OU EPÍSTOLAS?


Uma grande parte do Novo Testamento é constituído pelas correspondências escrita por líderes cristãos e dirigida às comunidades e/ou lideranças espalhadas por todo o Império Romano. Como devem ser denominadas estas correspondências: cartas ou epístolas? Qual a diferença entre estes dois tipos de correspondências?
Para alguns estudiosos, entre eles Adolf Deissmann (Light from the Anciente East),[1] a "carta" tem um cunho mais pessoal sendo dirigida a uma pessoa e abordando uma situação especifica, não tendo como objetivo primário o ser lido pela comunidade. A "epístola", por sua vez, é um dispositivo literário que tinha como propósito um público maior e mais diversificado.
Pode se dizer que a "epístola" era uma "carta" que tinha a finalidade principal de ser amplamente divulgada. O escritor esta visando alcançar além de um público primário (comunidade local ou individuo) alcançar também um número muito maior de leitores.
Partindo deste pressuposto, muitos estudiosos procuram demonstrar que as "epístolas" contidas no NT, de modo mais específico as escritas pelo apóstolo Paulo e seus contemporâneos neotestamentários, seriam na verdade "cartas" e não "epístolas", ou seja, eles não tinham intenção de que suas correspondências pudessem alcançar outros leitores além daqueles que originalmente endereçaram.
Todavia, como tão bem sabemos hoje, ainda que Paulo e seus colegas não tivessem essa intenção mais ampla, a autoridade apostólica deles, acabou por revestir estas correspondências de um valor muito maior e muito mais abrangente para todos os cristãos e igrejas em todas as épocas e lugares.
Procurando uma alternativa conciliadora podemos dizer que as correspondências contidas no NT são "cartas" quanto ao tom, ao espírito e ao propósito primário, mas simultaneamente, tornaram-se "epístolas" por causa da importância e abrangência universal de sua mensagem.
Ainda que Paulo tenha escrito duas cartas ao jovem pastor Timóteo, visando primariamente animá-lo e orienta-lo quanto às suas responsabilidades pastorais naqueles primeiros dias do cristianismo, tornou-se inevitável que está "carta" tão pessoal, na medida em que foi sendo lida também por outros cristãos, acabasse por tornar-se um instrumento precioso para todos pastores em todos os tempos, passando naturalmente à categoria de "epístola".

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
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[1] Deissmann utiliza-se das palavras de Cícero: "Vocês veem, eu tenho uma maneira de escrever o que acho que será lido por aqueles a quem envio minha carta, e outra maneira de escrever o que acho que será lido por muitos" (cit. R.P. Martin, New Testament Foudations, II, p. 242).

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