segunda-feira, 18 de abril de 2016

JESUS E OS DOZE - Introdução

                Um dos momentos mais significativos do Ministério terreno de Jesus é quando Ele resolve chamar para junto dele um seleto grupo de discípulos, que ficaram conhecidos como Apóstolos, e que a partir daquele momento o acompanharam mais de perto e foram ouvintes de Seus ensinos e participantes de seus milagres.
                Lendo os registros evangélicos deste momento não encontramos nenhuma razão pessoal nos que foram selecionados, que pudessem distingui-los de tantos outros que naquele momento também seguiam a Jesus. Ao contrário, de alguns deles, encontraremos ao longo das narrativas e de Pedro mais acentuada no final, relatos pouco apreciáveis sobre a conduta e/ou deles e para piorar no momento derradeiro, quando Jesus está sendo pregado, junto ao Calvário vamos encontrar apenas o jovem João e algumas das mulheres que acompanharam Jesus durante Seu Ministério. Tudo isso poderia contribuir para desqualificar estes selecionados, mas quando Jesus chamou cada um deles, sabia quem eram, sabia o que fariam, mas assim mesmo os chamou, pois Jesus queria estes homens e não outros.
               Nenhum deles decepcionou Jesus, nem mesmo Judas Iscariotes, pois Jesus sendo Deus conhecia a cada um e suas múltiplas limitações, ao contrário, amou cada um deles e os amou até o fim, amou cada um apesar de suas limitações e debilidades; se Jesus fosse chamar pessoas perfeitas, teria que chamar apenas os anjos, pois nesta terra apenas um Homem não falhou – Jesus!
                O chamado deste grupo peculiar de discípulos, antes de nos desanimar, deveria nos animar, pois eles formam um representativo de todos aqueles que continuaram sendo chamados por Jesus, através do Espírito Santo, para aprender com Ele e serem como aqueles, enviados a proclamarem Sua mensagem ao mundo.
                 Jesus continua a chamar homens e mulheres, apesar do que somos, porque simplesmente nos ama e quer por nosso intermédio comunicar este amor salvador a outras pessoas, que como nós também são pecadoras que erraram e continuam a errar; o Evangelho é a mensagem apropriada para pessoas que sozinhas não conseguem servir a Deus, pois suas naturezas pecaminosas deturpam suas melhores boas intenções.
                  Enquanto vamos lendo as narrativas evangélicas e tomando contato com este grupo selecionado por Jesus, conhecendo cada um deles, nos sentimos mais normais, pois percebemos que eles são tão humanos e tão gente, como cada um de nós. Anima o nosso coração o fato de que Jesus não chama pessoas perfeitas, pois certamente estaríamos fora, mas chamou e continua a chamar gente como a gente, e que Ele mesmo vai pacientemente preparando para servi-Lo e realizar a Sua vontade e o Seu propósito eterno.
                  Na medida em que formos conhecendo um pouco sobre cada um deste seleto grupo dos Doze, teremos a oportunidade de vê-los como espelhos que refletem cada um de nós, crentes sim, desejos de fazer a vontade de Jesus sim, mas que como pessoas tropeçaram na pedra da contradição humana que Paulo tantas vezes também tropeçou, de maneira que as coisas boas e certas que sabemos devem ser feitas, não fazemos, mas as coisas ruins e erradas que sabemos não devemos fazer, fazemos. Quando estamos conscientes da nossa indignidade para merecer a misericórdia e o amor de Deus, estamos em melhor posição para experimentar o que ele pode fazer por nós.
                   Vamos examinar, como introdução, apenas algumas observações sobre os textos evangélicos onde o momento da escolha deste grupo acontece. Nos próximos artigos iremos destacar um a um deles, para que venhamos a aprender e apreender com eles.
Os Doze Apóstolos
                Para qualquer leitor do Primeiro Testamento fica fácil identificar a relação direta que Jesus pretende fazer entre Seu Ministério e a História de Israel. Deus forma a nação israelita a partir dos doze filhos de Jacó (Israel) e agora Ele vai inicia a formação do Novo Israel a partir deste grupo de Doze Apóstolos. Assim como Israel deveria ser uma bênção a todas as famílias da terra (Gn 22.17-18 e 26.4), a partir deste novo Israel (Igreja) a mensagem salvadora deve ser proclamada a todas as nações e até os confins da terra.
Comparando as Três Listas
                Lucas destaca que Jesus utiliza um termo técnico diferente para este grupo – “apóstolos” em lugar de “discípulos”. O objetivo está na nova função que eles iram desempenhar e não necessariamente em uma promoção; “discípulo” é alguém que aprende fazendo, o nosso “aprendiz”, enquanto que “apóstolo” é alguém comissionado a realizar uma tarefa oficial, o que eles farão em breve. Primeiro vem o Discipulado e somente então o Apostolado "Jesus nomeou os Doze para estarem com ele e, em seguida, mandou-os com sua autoridade para anunciar a Boa Nova. Muitas pessoas querem a autoridade de um Pedro ou João sem primeiro passar pela escola de discipulado. Aqueles doze receberam necessária instrução, treinamento, prática e acima de tudo, o tempo para amadurecer. Devemos estar dispostos a gastar tempo aprendendo com o Mestre, antes de ir para frente a fazer o seu trabalho público" (Barton, p. 81).
                Conforme indicado acima, três dos quatro evangelistas fornecem uma lista com os nomes dos doze selecionados. Marcos os dispõe de dois em dois, uma vez que posteriormente Jesus haverá de envia-los de dois em dois (Mc 6.7) e provavelmente fosse está a formação das duplas.
                De alguns deles nada ficamos sabendo como Bartolomeu, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Zelote, e dos demais temos parcas informações nas narrativas evangélicas, de maneira que muitas informações sobre eles somente será encontrada fora das narrativas bíblicas, como verificaremos. O que não é de surpreender, pois os evangelistas querem falar sobre Jesus Cristo e não sobre seus discípulos, mesmo deste grupo seleto apostólico. Esta é a diferença entre o Evangelho bíblico e o Evangelho atual: no primeiro é Jesus o centro da narrativa e das atenções; no Evangelho atual são os pregadores o centro das atenções.
                Destacam-se algumas observações e mudanças feitas aos nomes de alguns deles: Simão é alterado para Pedro (a rocha) e Levi altera-se para Mateus (o presente de Deus). Tiago, um dos mais velhos e João, o mais jovem do grupo, recebem a alcunha de “Boanerges” (filhos do trovão), por causa de suas atitudes impulsivas (Mc 9.38-41; 10.35-39; Lc 9.54-55). As mudanças de nomes são comuns nas narrativas bíblicas e implica sempre em mudança de caráter (de vida) e no caso dos “Boanerges” posteriormente um deles, João, será identificado como o Apóstolo amoroso, que transformação e o Pedro amedrontado, à beira da fogueira, será transformado em Pedro o destemido, diante do Sinédrio. O Evangelho de Jesus transforma vidas!
                Encontramos também algumas combinações estranhas nesta seleção de Jesus. Um exemplo é Simão, o Zelote, e Mateus, o cobrador de impostos compartilhando refeições juntos e convivendo pacificamente no mesmo grupo. Afinal de contas, os zelotes acreditavam que eles eram chamados por Deus para se envolverem em uma guerra santa contra "os poderes das trevas" e/ou “os inimigos de Israel” e na visão deles todos os cobradores de impostos, como Mateus, eram traidores da pátria e da própria religião judaica e deveriam ser mortos. Mas tal é o poder transformador de Cristo, que Ele poderia até mesmo incluir uma tão improvável combinação em seu pequeno grupo de apóstolos. E não poderíamos deixar de destacar Judas Iscariotes “que O traiu" (Mc 3.19) também deve lembrar-nos que a Igreja de Jesus nunca foi perfeita. Ele sempre teve seus Judas, mesmo em ministério. Mas Deus não o abandona e nem despreza, ao contrário, Jesus o ama e utiliza ele, apesar do que ele era.
                Outra característica do trio evangélico é que os quatro primeiros a serem chamados por Jesus são mencionados primeiramente, ainda que em sequência diferente: Mateus e Lucas os mencionam em pares de irmãos; Marcos (como Atos) coloca André por último (Pedro, Tiago, João), seguindo o critério de intimidade no grupo apostólico e Mateus é nome aramaico; Tadeu aparece em alguns manuscritos como Lebeu (não nos dois mais antigos) e Lucas o chama de “Judas, filho [ou irmão] de Tiago” (Lc 6.16; At 1.13).[1]
                Por último quero ressaltar o fato de que as três listas iniciam sempre com Pedro e conclui sempre com o nome de Judas Iscariotes. O adjetivo Zelote pode se referir a uma pessoa que era zeloso da Lei (como Saulo) ou alguém que foi membro do grupo revolucionário da época; Iscariotes se refere a uma pessoa que tinha origem do vilarejo Queriote nas regiões da Galileia.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
BARTON, Bruce. Mark - Life Application Commentary, Wheaton, 2000.
TASKER, R. V. G. The gospel according to St. Matthew. Tyndale New Testament Commentaries. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1961.




[1] “Pode ser que Judas fosse o seu nome verdadeiro; porém, mais tarde, devido ao estigma ligado ao nome Judas Iscariotes, Tadeu (que talvez signifique “de coração bondoso”) tenha sido um nome que substituiu o nome Judas”. (TASKER, 1961, p. 107).


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