quarta-feira, 2 de março de 2016

CONTEXTO POLITICO-SOCIAL DA JUDEIA - IMPERADOR TIBÉRIO

O Imperador Tibério é uma das figuras mais intrigante e complexa da história romana. Sua figura materna, Lívia, era uma mulher calculista e fria, de maneira que Tibério cresce com tremendas dificuldades de se relacionar com outros. Quando ainda muito jovem sua alcunha era – “velho senhor”.
Sua vida conjugal é um reflexo dos conflitos que persistiam em sua alma. Coagido pela “doce” mãe é obrigado a repudiar a primeira esposa Vipsânia, a quem amava, e se casar com Júlia, sobrinha do imperador Augusto, que não tinha nada em comum com ele. O resultado é que ele se impõe a um autoexílio na ilha de Rodes (no Mar Egeu). Retorna apenas quando Júlia é exilada na ilha de Pandatéria (no Mar Tirreno).
Somente aos 48 anos, ano 4 depois de Cristo, que ele é oficialmente aceito como enteado. Dois netos do imperador Augusto morrem e um terceiro é sentenciado a morte pelo próprio avô. Tibério é revestido da “tribunicia potestas” (tribuno do povo). No ano 13 d.C. ele assume a função de “imperium consulare”, comandando todo o Império.
Mas como na vida de Tibério nada é tão simples, por testamento de Augusto, ele herda apenas dois terços do império, e sua mãe (novamente), fica com um terço e ainda o título de Augusta.
As responsabilidades de Imperador é um fardo insuportável. Falta-lhe algo que é fundamental no exercício da liderança, conhecer as pessoas. Torna-se perigosamente aberto a todos que manifestem uma intenção de ajudá-lo e isto lhe será fatal. Surge a figura sinistra de Sejano. Como prefeito da guarda pretoriana, responsável direto pela segurança dos Comandantes e do próprio Imperador.
Sejano se aproveita da fragilidade de Tibério e começa sua ascensão (18 d.C.). Rompe o acordo firmado com Simão Macabeu, que em 139 a.C. havia enviado uma legação a Roma e conseguido assegurar um acordo de pacificação,[1] e utilizando de artifícios investe pesado contra os judeus. Convence Tibério a baixar decreto proibindo os cultos principalmente egípcios e judaicos; convoca os jovens judeus para o serviço militar e os envia aos piores lugares do império e finalmente consegue a expulsão dos judeus de Roma. Druso, único filho de Tibério, percebe as intenções malignas de Sejano e por isso é envenenado.
Sejano concentra as tropas da guarda pretoriana em Roma, constrói uma sede pretoriana no monte Viminal e por volta do ano 23 d.C. assume indiretamente o controle da cidade. Enquanto tudo está acontecendo, Tibério tem nova recaída e retira-se para Campânia e depois para a ilha de Capri.
Neste momento surge a figura de Pilatos,[2] da linhagem dos Pôncios. Amigo de Sejano, cavaleiro, é nomeado para ser o quinto procurador na Judéia,[3] em meio a todas estas políticas anti-judaicas promovidas pelo prefeito da guarda pretoriana.
Sejano cai em 31 d.C., quando é denunciado por Antônia, cunhada do Imperador, por armar um complô para matar Tibério e assumir o poder, conforme relato do historiador Flavio Josefo:
“Sejano, amigo de seu falecido marido e, na sua qualidade de chefe dos pretorianos, o homem mais influente daquele tempo, promovera uma conjuração na qual tomavam parte muitos senadores com seus libertos, e para o qual foi ganho também o exército. A conspiração já havia conquistado amplos setores da sociedade e Sejano por pouco não teria desfechado o golpe, se Antônia não o tivesse impedido, com decisão e sapiência. Tão logo foi informada do complô, ela escreveu uma carta a Tibério, confiando-a ao seu mais dedicado escravo, Palas, que a levou a Tibério, em Cápri. A seguir, Tibério manda executar Sejano e todos os seus cúmplices”. (Antiguidades Judaicas 18,6,6).
Apesar disso Pilatos vai se equilibrando na sua função de Procurador e por dez anos permanece na Palestina. São anos de terríveis perturbações. Ao menos uma reclamação contra o Procurador da Judéia chegou às mãos do Imperador. Nesta os judeus reclamam de que Pilatos houvera pendurado escudos votivos de ouro na cidadela de Herodes, em Jerusalém e solicita que seja ordenado que os retire. Tibério repreende Pilatos e manda retirar os escudos aconselhando que ele leve em consideração a índole própria dos judeus.
Foi no reinado deste Imperador tão volúvel e completamente inseguro que se deu a pregação e as atividades de Jesus.  


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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[1] A legação retorna à Judéia com uma carta de recomendação da parte do cônsul Lúcio: “Vieram a nós, na qualidade de nossos amigos e aliados, os embaixadores dos judeus enviados por Simão, sumo sacerdote e pela comunidade dos judeus, para renovar a antiga aliança e amizade. Trouxeram um escudo de ouro de mil minas. Aprouve-nos, pois, escrever aos reis e aos vários países, para que não lhes causeis nenhum dano e não empunhem as armas nem contra eles nem contra suas cidades e suas terras, e para que não se coliguem com quem acaso os guerreasse. Julgamos, pois, que faríamos bem em aceitar o escudo que nos trouxeram”. (1 Macabeus 15.17-20).
[2] Pôncio Pilatos, também conhecido simplesmente como Pilatos (em latim: Pontius Pilatus; em grego: Πόντιος Πιλᾶτος), foi prefeito (praefectus) da província romana da Judéia entre os anos 26 e 36. Foi o juiz que, de acordo com a Bíblia, após ter lavado as mãos, condenou Jesus a morrer na cruz, apesar de não ter nele encontrado nenhuma culpa. Os evangelhos citam que Pilatos era ferrenho inimigo de Herodes Antipas, mas ficaram amigos após este ter recebido Cristo das mãos de Pilatos em face da origem de Cristo ser a Galileia. Eusébio de Cesaréia, em sua História Eclesiástica, afirma que Pilatos caiu em desgraça junto ao imperador Calígula e cometeu suicídio por volta do ano 37 d.C.
[3] Relação de governadores romanos que administraram a província da Judéia, como Prefeitos ou Procuradores, entre os anos 6 e 66: Prefeitos: Copônio (6 - 9); Marcos Ambíbulo (9 - 12); Ânio Rufo (12 - 15); Valério Grato (15 - 26); Pôncio Pilatos (26 - 36); Marcelo (36 - 37); Marulo (37 - 41); Procuradores: Cúspio Fado (44 - 46); Tibério Alexandre (46 - 48); Ventídio Cumano (48 - 52); Marco Antônio Félix (52 - 60); Pórcio Festo (60 - 62); Albino (62 - 64); Caio Géssio Floro (64 - 66). http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_governadores_da_Judéia

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