quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Pentateuco: Introdução Geral

O termo "Pentateuco" se deriva de duas palavras gregas "pente" (cinco) e "teucos" (volumes).[1] Este termo não é encontrado nas Escrituras, e certamente também não era assim denominado quando o rolo foi dividido em cinco porções (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Esta classificação foi feita provavelmente pelos tradutores gregos quando da Septuaginta. Alguns críticos modernos falam de um “Hexateuco” (seis livros) pois introduzem o livro de Josué como parte integrante deste grupo. Todavia, este livro é de um caráter completamente distinto dos outros cinco livros, e tem um autor diferente. Constitui-se na verdade como o primeiro de uma série de livros históricos que se inicia com a entrada dos Israelitas em Canaã (cf. veremos futuramente).
Os Samaritanos também tinham um Pentateuco, porém, modificado em favor ou em nome da teologia, hermenêutica e adoração doméstica deles. A origem do Pentateuco Samaritano é motivo de muitas controvérsias, sendo as opiniões mais aceitas: a) que entrou ao uso dos samaritanos como herança das dez tribos quando da divisão do Reino; b) que foi introduzido por Manassés na hora da fundação do santuário Samaritano no Monte Gerezim.
Os livros que compõem o Pentateuco são chamados também de "Lei de Moisés", o "Livro da Lei de Moisés", o "Livro de Moisés", ou como os judeus designavam, a "Torá" ou "Lei". Que em sua forma presente procede de um único autor é demonstrado por seu plano e permeia o seu conteúdo inteiro e ambos, Judeus e Cristãos, reconhecem que esses livros exibem uma unidade. A revelação de Deus e de sua pessoa, pela instrumentalidade de Moisés, é tão harmoniosa que tudo quanto é descrito dEle antes do tempo (os primeiros capítulos de Gênesis) torna-se preparatório para tudo quanto será ainda revelado. A unidade histórica é vista em que onde um livro termina cronologicamente, o outro começa. Por exemplo, Êxodo termina com a construção do Tabernáculo e a presença de Deus vindo sobre ele; Levítico começa com Deus falando do Tabernáculo. A unidade teológica é também clara. Todos cinco livros são relacionados aos temas de promessa, eleição, redenção, aliança e/ou pacto, lei e terra.
No transcorrer dos tempos levantou-se diversas escolas de críticos que discordaram da autoria mosaica e por um processo de "estudo científico" concluíram que o Pentateuco não passava de uma coleção misturada de histórias, muitas delas inventadas e amarradas por um conjunto de editores. Estes críticos estão dispostos a atribuir fraude e conspiração dos autores bíblicos, que buscavam aceitação de seus escritos, que segundo eles foram compostos no período do rei Josias e em parte em Esdras e Neemias, e depois distribuídos como sendo o trabalho de Moisés.
Um dos primeiros a levantar dúvidas sobre a questão da autoria Mosaico do Pentateuco foi Baruch Spinoza que insinuou em 1671 a possibilidade de seu autor ter sido Esdras. Em 1753 Jean Astruc, um médico e professor da Faculdade Real de Paris, partindo de suas observações ao longo do livro de Gêneses, e até o 6º capítulo de Êxodo, encontra indícios de dois documentos originais, cada um caracterizado pelo uso distinto dos nomes de Deus; um pelo nome Elohim, e o outro pelo nome Jehovah. Ele supôs então que Moisés utilizou-se de pelo menos mais dez outros documentos originais na composição da parte mais recente do trabalho dele, além destes dois documentos principais. Neste caminho aberto por Astruc seguiu-se inúmeros escritores alemães e que por sua vez desdobrou-se em inumeráveis hipóteses.
Uma das hipóteses mais conhecida é a chamada de hipótese documentária ou a teoria do JEDP. "J" representa Jehovah ou Yahweh, a fonte mais antecipada, escrita por volta de 900 a.C.; "E" representa a fonte chamada Elohim, escrito por volta de 800 a.C.; "D" representa a fonte Deuteronômica escrito já nos anos 621 a.C.; e "P" representa a fonte Sacerdotal, escritas no período de 500 a.C. Mas este artigo não é o espaço adequado para entrarmos em detalhes destas teorias.[2]  
O grande esforço desses críticos é de tornar os livros da Bíblia comuns, ou seja, sem quaisquer vestígios de inspiração divina. Todavia, os anos se passaram e a máxima racionalista de que a razão humana é a medida última de todas as desvaneceu, juntamente com as argumentações destes "críticos" que foram revelando toda sua fragilidade e suas conclusões se mostraram especulativas e completamente insustentáveis. Inclusive entre eles próprios nunca houve um consenso, de maneira que, acabavam por chegarem a conclusões totalmente conflitantes.

Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
FRANCISCO, Clyde T. Gênesis - Comentário Bíblico Broadman. Tradução Adiel Almeida de Oliveira, 2ª edição (1969). Rio de Janeiro: JUERP, 1988. [ v. 1].




[1] A palavra "teuchos" significa propriamente um instrumento. Essa palavra veio a ser usada para designar um receptáculo para guardar rolos de papiros, e também para designar o próprio rolo. Daí o seu sentido de volume ou livro.
[2] Para maiores informações sobre o pensamento destes "críticos" veja o material de Clyde T. Francisco (1988, p.25-33).

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