quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

SINAGOGA JUDAICA - Verbete

Sinagoga na cidade de Beréia
Origem
O termo sinagoga é derivado do grego (συναγωγή) usada para qualquer reunião de pessoas (assembleia) com propósitos religiosos ou seculares. O termo vem da forma verbal grega comum (συναγω) “congregar”, “reunir”, “juntar” (Mt 2.4 “convocando”; Mc 6.30; Lc 12.17; Jo 4.36).[1] Posteriormente, pelo uso da língua latina, a palavra “sinagoga” foi inserida em todas as línguas modernas.
Este tipo de casa da comunidade e local para o serviço religioso veio do período da diáspora,[2] onde a necessidade de ter um lugar específico para estas reuniões era muito grande e havia certos modelos nas imediações.[3]
Com a destruição do Templo em Jerusalém e subsequente interrupção de todo o sistema religioso-sacrificial, criou-se a necessidade de se desenvolver uma religião mais pessoal, como já se manifestava na vida dos profetas, que eram críticos e viviam à margem do sistema sacerdotal.
A crescente pressão sincretistas das religiões persa-grego e o risco da perda do idioma hebraico e decorrente identidade nacional, fez com que se preservasse a todo custo o estudo da Torá (Pentateuco) como expressão da genuína fé nacionalidade.
Na Palestina, foi introduzida por Esdras, quando do retorno de grupos de exilados e se multiplicou rapidamente. Elas eram estabelecidas em todas as vilas e cidades, e no interior, perto dos rios, para que pudesse haver água em abundância para as várias purificações. A quantidade se explica pela necessidade de que todos os judeus participassem dos cultos aos sábados. Um número aproximado de cinquenta sinagogas foi localizado na região da Palestina e algumas na Síria, mas certamente o número delas foi muito maior. Nos relatos evangélicos mencionam-se pequenas aldeias na Galileia e as sinagogas onde Jesus ensinava (Mt 4.23; 9.35; Lc 4.16,33).
Diferentemente do Templo, nas sinagogas não havia a necessidade de um sacerdote, abrindo espaço para a figura do rabino e/ou mestre que se especializava no estudo da Torá e suas aplicações na vida cotidiana dos seus ouvintes, foi nessa condição que Jesus ensinava nas sinagogas durante seu ministério itinerante pela Palestina. É neste vácuo da sinagoga que dois personagens muito presentes nas páginas evangélicas haverão de alcançar status – os escribas e os fariseus – ambos umbilicados com o estudo da Torá.
A sinagoga inicialmente um local para oração e/ou culto, no transcorrer do tempo se tornou o local para muitas outras atividades envolvendo a vida cotidiana das comunidades judaicas: catequese infantil, assistência aos pobres, providências judiciais como flagelação (Mt 10.17) e excomunhão (Lc 6.22) aplicadas pelas autoridades da sinagoga local.

Responsáveis pela Sinagoga
Havia dois responsáveis pelo edifício e pelo serviço divino realizados na sinagoga: o presidente ( Gr. “archisynagogus” e “rosh hakeneset” em hebraico - Mc 5.22s.) e um vigia (hebr. “hazzan”, Gr “kyperetes” - Lc 4.20). O presidente era responsável pela manutenção e funcionamento do edifício, pela elaboração da liturgia (escolher a leitura que seria feita da Torá), nos evangelhos aparece a figura de Jairo (Mc 5.22; Lc 8.41) e em Atos Crispo (18.8) e Sóstenes (18.17) ambos com nomes gentílicos. O vigia “servo da sinagoga” expresso no termo grego (Lc 4.20)[4] era responsável pela limpeza do espaço, bem como o responsável em pegar e guardar os Rolos das Escrituras que ficavam na réplica da Arca da Aliança em lugar reservado, posteriormente assumiu a responsabilidade do canto nos ofícios religiosos e mais recentemente o responsável pelas escolas sinagogais. Além deles um Conselho de 3 a 13 membros eram escolhidos pela congregação para ensinar e julgar casos envolvendo religião e questões civis (Mt 10.17; 23.34; At 22.19; 26.11; Jo 9.22,34; 12.42; 16.2), cabendo ao “hazzan” (vigia) a aplicação da sentença. Um terceiro oficiante era o “líder das orações” (seliah zibbur), um leigo sem função sacerdotal que respondia as orações litúrgicas durante as reuniões e com o tempo fundiu-se com a função do “hazzan”. Também havia a figura do “interprete e/ou tradutor” (metorgman) que no contexto dos evangelhos fazia a tradução do texto hebraico para o aramaico, podendo ser identificado na expressão “que quer dizer” (Mt 1.23; M 5.41; 15.22,34; Jo 1.41 e Atos 4.36).; foram muito importantes nas sinagogas da região da Galiléia e provavelmente nas sinagogas da Diáspora.   
Os Sacerdotes recebiam honras, todavia, não tinham nenhum cargo oficial, a não ser que fossem eleitos para participarem do Conselho ou para aturarem como professores.

A Dinâmica da Reunião e/ou Culto
Os homens da congregação, em número indeterminado (ainda que o número mínimo de dez homens fosse necessário para promover e mantê-la) se reuniam a cada sábado para adorar a Deus (At 15.21) e também no segundo e quinto dia da semana para ouvir a leitura das Escrituras. Os homens tomavam assentos separados das mulheres. Um dos membros da sinagoga é quem fazia oração. Consistia principalmente na leitura de Dt 6.4-9; 11.16-21; Nm 15.37-41 e em repetir algumas, ou todas as dezoito orações e bênçãos. O povo ficava de pé durante as orações e todas as pessoas presentes diziam "Amém" quando terminavam. A leitura da Lei era feita por três, cinco ou sete leitores, designados pelo presidente da sinagoga, se possível sacerdote ou levitas ou outros homens e eventualmente meninos (passagem da puberdade). Leem no púlpito, de pé, revezando-se, a perícope do Pentateuco determinada para cada dia, de acordo com um ciclo de três anos (hebr. "seder"). Começava e terminava com ação de graças. Seguia-se uma lição dos profetas que era lida pela mesma pessoa que abria o serviço com a oração. Depois da leitura, o leitor, ou qualquer outra pessoa presente fazia uma exposição sobre ela [Jesus (Mt 4.23; 13.54; Mc 6.2; Lc 4.15-22; Jo 18.20) e Paulo (At 13.5,15; 14.1; 17.10-17; 18.19) utilizaram-se deste momento]. O culto terminava com a bênção, pronunciada por um sacerdote, se havia algum presente; e a congregação dizia: Amém.

A Estrutura Arquitetônica
A arquitetura da sinagoga sofreu sempre a influência do país em que era construída. Em Alexandria, a forma é a da basílica; na Europa foi influenciada pelo estilo romano e grego. Na Idade Média havia influência bizantina e dos mouros. A arca sagrada era sempre colocada na direção de Jerusalém e os participantes ficam em frente dela. Antigamente, no centro da sinagoga, elevada, havia uma mesa onde se lia a Torá – chamada de Al Memor. Em seguida, construíam-se um estrado em frente da arca sagrada e um púlpito para o cantor, que serve também de lugar para a leitura da Torá. Em frente da arca sagrada têm a lâmpada eterna (Ner Tamid) e castiçais sobre o púlpito, lembranças da Mesnorá do grande Templo destruído. As sinagogas têm motivos decorativos: as tábuas das leis, o Maguen David e alguns frisos com cenas bíblicas; o sacrifício de Isaac, os signos das doze tribos, o exílio de Babilônia, os túmulos dos patriarcas etc.

Utensílios Comuns em Todas as Sinagogas
- Uma arca ou baú contendo a Lei
- Uma plataforma elevada e uma mesa, de onde a Lei era lida e exposta
- Assentos para os homens em baixo e galerias para as mulheres. Em outras, uma repartição, separando homens e mulheres.
- Assentos para os oficiais na frente da plataforma, de frente para a congregação.
- Lâmpadas para prover iluminação nos cultos noturnos e nas festas.
- Móveis para guardar todos os utensílios, ofertas e outras coisas úteis.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006, 8ª ed. [v. 6 – S-Z] p. 219-222.
DRANE, John (Org.) Enciclopédia da Bíblia. Tradução Barbara Theoto Lambert. São Paulo: Edições Paulinas e Edições Loyola, 2009. [p. 171]
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. v. 5.





[1] E usado para traduzir 19 palavras e expressões hebraicas diferentes, porém em 80% das ocorrências é equivalente ao hebraico ddf “assembléia”, que aparece 145 vezes no AT e que é traduzido como synagõgê em 127 casos (MERRIL, 2008, p. 636).
[2] Diáspora (Hebr. "galut") significa dispersão. Nas épocas bíblicas a palavra significava refúgio e ao mesmo tempo proteção dada ao refugiado. Após a destruição do segundo Templo, a palavra significa dispersão, ou seja, a situação dos judeus espalhados pelo mundo.
[3] Foi o humanista italiano Cario Sigonio (1524-1584) que inicialmente defendeu a criação da Sinagoga como uma necessidade social-religiosa e depois ratificada nos estudos do teólogo holandês Campegius Vitringa (1659-1722).
[4] Esse termo mais tarde foi usado para identificar um ministro do Evangelho (Lc 1.2; Atos 26.16).

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